ALUNO DO CRISTO, AMANTE DA VIDA, AMIGO DO HUMANO, ADMIRADOR DA CRIAÇÃO, AUXILIAR DA SOCIDADE.
IGREJA NA REFORMA E A REFORMA
Por Pr. Plínio Sousa.
INTRODUÇÃO
Reforma Protestante foi um movimento reformista
cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero, quando através
da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do
Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja
Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios
fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco Solas: Sola
Fide (somente a fé), Sola Scriptura (somente a Escritura), Solus Christus (somente
Cristo), Sola Gratia (somente a graça), Soli Deo Gloria (glória somente a
Deus). Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus
provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, estendendo-se pela
Suíça (com Ulrico Zwínglio), França (com Guilherme Farel e João Calvino –
posteriormente conhecidos como Huguenotes), na Inglaterra – com os Puritanos,
Países Baixos – com os Reformados, na Escócia (Reino Unido) – com os
presbiterianos, Escandinávia (norte europeu) e algumas partes do Leste europeu,
principalmente os Países Bálticos e a Hungria (cf. Os Reformadores). A
resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como
Contrarreforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento.
CONCÍLIO DE TRENTO
O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi
o 19º concílio ecuménico da Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III
para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto da
Reforma da Igreja Católica e da reação à divisão então vivida na Europa devido
à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado também de Concílio da
Contrarreforma. O Concílio foi realizado na cidade de Trento, no antigo
Principado Episcopal de Trento, região do Tirol italiano. O Concílio de Trento,
atrasado e interrompido várias vezes por divergências políticas ou religiosas,
foi um conselho de uma grande reforma, uma personificação dos ideais da
Contrarreforma. Mais de 300 anos se passaram até ao Conselho Ecumênico
seguinte. Ao anunciar o Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII afirmou que os
preceitos do Concílio de Trento continuam nos dias modernos, uma posição que
foi reafirmada pelo Papa Paulo VI.
A REFORMA CATÓLICA
Contrarreforma, que ficou também conhecida por
Reforma Católica, é o nome dado ao movimento que surgiu no seio da Igreja
Católica a partir de 1545, e que, segundo alguns autores, teria sido uma
resposta à Reforma Protestante (de 1517) iniciada por Lutero. Em 1545, a Igreja
Católica Romana convocou o Concílio de Trento (na cidade
italiana de Trento) estabelecendo entre outras medidas, a retomada do Tribunal
do Santo Ofício – Inquisição (um grupo de instituições dentro do sistema
jurídico da Igreja Católica Romana, cujo objetivo é combater a heresia), a
criação do “Index Librorum Prohibitorum – Índice dos Livros Proibidos”,
com uma relação de livros proibidos pela Igreja e o incentivo à catequese dos
povos do Novo Mundo, com a criação de novas ordens religiosas, dentre elas a
Companhia de Jesus (Jesuítas). Outras medidas incluíram a reafirmação da
autoridade papal, a manutenção do celibato eclesiástico, a reforma das ordens
religiosas, a edição do catecismo tridentino, reformas e instituições de
seminários e universidades, a supressão (ato ou efeito de eliminar) de abusos
envolvendo indulgências e a adoção da Vulgata (tradução para o latim da Bíblia,
escrita entre fins do século IV início do século V, por São Jerônimo, a pedido
do bispo Dâmaso I) como tradução oficial da Bíblia. Podemos dizer que a
contrarreforma foi uma resposta direta à Reforma Protestante.
O resultado da Reforma Protestante foi à divisão da
chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou
protestantes, originando o protestantismo.
Durante muito, os primeiros cristãos foram
perseguidos e até mortos por causa de Cristo. A situação mudou quando o
imperador romano Constantino (313 d.C.), institui uma série de benefícios ao
Cristianismo, tais como: isenção de impostos, terras, pagamento dos bispos e
ajuda na construção de templos. Poder e dinheiro passaram a influenciar a vida
da Igreja, que, em 392 d.C. se fundiu com o Estado, tornando-se a mesma coisa.
Com isso, muitos passaram a fazer parte da “nova religião”, não por convicção e
fé, mas por favores e benefícios. Aquela vida comunitária, aquele amor cristão,
a partir o pão de casa em casa e o socorrer aos necessitados viraram práticas
do passado. O Cristianismo começou a decair moralmente, e seus fiéis não
corresponderem à Palavra e à vontade de Deus. Na Idade Média, quem mandava na
Igreja era o Papa. Naquela época, ele tinha plenos poderes para instituir e
derrubar reis e reinos: A igreja passou de perseguida a perseguidora, e muitos
sofreram nas mãos dessa “Igreja Cristã”. Foi criado o “clero”, que era uma
liderança muito mais política que espiritual, e mantinha uma distância enorme
do povo. O clero não parecia de forma alguma com o grupo dos apóstolos, que
viviam em meio ao povo.
Veja alguns erros da Igreja neste
período:
380 d.C. – Oração pelos mortos.
535 d.C. – Instituição das procissões.
538 d.C. – Celebração da missa de costa para o
povo.
757 d.C. – Adoração de imagens.
884 d.C. – Canonização de santos.
885 d.C. – Adoração da “Virgem Maria”.
1022 d.C. – Legalização da penitência por dinheiro.
1059 d.C. – Aceitação da transubstanciação dos
elementos da Ceia (acreditar que o pão e o vinho se transformam verdadeiramente
no corpo e sangue de Cristo, de forma tal, que embora pareça pão e vinho, o que
você está comendo e bebendo é o próprio e real corpo e sangue de Jesus).
1215 d.C. – Adoção da confissão auricular (Os fiéis
católicos aprendem que devem confessar seus pecados mortais pelo menos uma vez
por ano a um sacerdote humano).
1470 d.C. – Invenção do rosário.
Diante de tantas coisas erradas e corrompidas uma
Reforma era urgente. Quando falamos em reforma logo pensamos em algo que será
melhorado. Você não começaria uma reforma em sua casa para que ela ficasse em
um estado pior. Foi isso o que aconteceu com a Igreja no período da Reforma
Protestante – buscou-se consertar o que estava errado, voltar à Palavra de Deus
sempre foi o objetivo. A igreja precisava ser restaurada no reto caminho e abandonar
os desvios que havia tomado. Veremos um pouco do que aconteceu naquele período
e, principalmente, os importantes ensinos bíblicos resgatados pelos
reformadores.
1 – REFORMA NA IGREJA
É preciso entender a Reforma Protestante, não como
alguns sugerem, apenas um ato político, em que príncipes e nobres puderam
rebelar-se contra o poder dominante da Igreja Católica. A Reforma envolveu,
principalmente, a vida espiritual da época. Martinho Lutero era um monge
católico que, a partir do estudo das Escrituras, descobriu a verdade de que “o
justo deveria viver pela fé” (Romanos 1:17). Transformado por essa
verdade da Palavra de Deus, Lutero desejava agora corrigir os erros que
encontrava na Igreja Católica. No dia 31 de outubro de 1517, véspera do “Dia de
todos os Santos”, ele afixou suas 95 teses à porta da Igreja do Castelo, na
cidade alemã de Wittemberg, combatendo principalmente a venda de indulgência
praticada pela Igreja.
As indulgências eram documentos que, quando
comprados, concediam perdão pelos pecados, tanto para vivos, quanto para
parentes já mortos. Na doutrina católica, Indulgência (do latim “indulgentia”,
que provém de “indulgeo” – “para ser gentil”) é o perdão fora dos sacramentos,
total ou parcial, e “da pena temporal devida, para a justiça de Deus,
pelos pecados que foram perdoados, ou seja, do mal causado como consequência do
pecado já perdoado, a remissão é concedida pela Igreja Católica no exercício do
poder das chaves, por meio da aplicação dos superabundantes méritos de Cristo e
dos santos, por algum motivo justo e razoável”.
Martinho Lutero combateu Johann Tetzel, um alemão
católico romano, frade dominicano e pregador, que se tornou o grande comissário
da Igreja Católica Romana para pregar a indulgência “cristã” no século XVI, o
que ele fez ao longo de sua vida. Em 1509, exerceu a função de inquisidor da
Polônia e, em 1517, o Papa Leão X o fez comissário de indulgências para toda a
Alemanha.
A igreja Romana reagiu duramente a esse ato de
Martinho Lutero, mas iniciava-se ali o movimento da Reforma Protestante. Lutero
foi excomungado e perseguido pela Igreja Católica, mas contou com o apoio do
povo alemão. A verdade da justificação pela fé estava apenas começando a
percorrer a Europa. Sucederam a Lutero outros grandes reformadores, como João
Calvino, Melanchton, Ulrico Zwínglio e John Knox. João Calvino pode ser
considerado o grande sistematizador da Teologia da Reforma com a sua obra: “As
institutas da Religião Cristã”, Deus conduziu homens para que a Igreja
voltasse à verdade da sua Palavra. Os discípulos de Cristo do período da
Reforma deixaram marcas profundas na sociedade e na Igreja. Podemos entender
melhor essas marcas estudando as “bandeiras” levantadas pelos
reformadores – os Solas da Reforma.
2 – OS SOLAS DA REFORMA
A palavra latina Solas significa “somente”. Os
reformadores definiram cinco lemas usando essas palavras e suas variações.
Vejamos:
(1) SOLA SCRIPTURA – SOMENTE AS
ESCRITURAS
Sola Scriptura, segundo a Reforma Protestante, é o
princípio no qual a Bíblia tem primazia ante a Tradição legada pelo magistério
da Igreja, quando, os princípios doutrinários entre está e aquela forem
conflitantes. Na Reforma, não se rejeita a Tradição, ela continua a ser usada
como legitimadora para qualquer assunto omitido pela Bíblia. Quando houver
divergências entre Bíblia e tradição, a Bíblia terá sempre primazia.
A Bíblia era conhecida somente pelos estudiosos da
Igreja Católica que a utilizavam como bem entendiam. A Igreja defendia práticas
totalmente estranhas à Palavra de Deus ensinando “doutrinas que são
preceitos de homens” (Marcos 7:7). O movimento da Reforma disse
“não” a esse procedimento da Igreja Romana e afirmou Sola Scriptura,
ou seja, somente cremos e praticamos o que a Bíblia ensina somente a Bíblia
deve ser a nossa regra de fé e prática. Os reformadores se empenharam em
traduzir a Bíblia para que todas as pessoas tivessem acesso a ela e pudessem
julgar os ensinos da Igreja por meio do próprio estudo da Palavra. Muitas vezes
não damos o devido valor ao fato de hoje termos a facilidade da Palavra de Deus
impressa em nossa própria língua e não a estudamos tanto quanto deveríamos.
Lembre-se: devemos ser guiados somente pelas Escrituras. Nos movimentos de
inspiração protestante considerado historicamente como, por exemplo, na
Inglaterra os puritanos, e outros surgidos durante o século XIX, esse princípio
foi resinificado como “nuda Scriptura – (Escritura por si somente) ”, passando
a ser entendido ao pé da letra, adotando-se a ideia de que a “Escritura
interpreta a própria Escritura”, bem como a que a mesma era suficiente como
única fonte de doutrina e prática cristãs em todos os aspectos. O modelo “Nuda
Scriptura” veio a reproduzir-se na máxima“nenhum credo senão a
Bíblia”. Certamente há uma diferença entre o debate acerca dos usos dos
credos e confissões de fé, e o debate propriamente dito acerca da legitimidade
ou propriedade de se elaborar e sustentar um credo. O debate sobre o uso de
credos e confissões de fé – “Em que contextos ou em que situações?” –
Rege-se pela regra da “prudência cristã”, e o uso prático pode
diferir de Igreja para Igreja, de ministro para ministro, ou de uma comunhão de
Igrejas para outra. Já o modelo antirrealista e anticonfessionalista, por si
mesmo, é, segundo entendimento, inteiramente equivocado. As confissões de fé e
os credos são de extrema importância para a vida da Igreja e para uma saudável
espiritualidade atrelada à piedade.
(2) SOLUS CHRISTUS – SOMENTE CRISTO
Solus Christus, (às vezes usado na sua forma
ablativa Solo Christo). Esta expressão latina refere-se ao termo: “salvação
somente por Cristo”.
Cremos que a Bíblia é a nossa única regra de fé e
prática e, estudando-a, verificamos que Cristo é o tema central das Escrituras.
Quando a Palavra de Deus é tomada como regra de vida, obrigatoriamente temos
Cristo como centro de nosso viver. Jesus mesmo afirmou que as Escrituras
testificam dele (João 5:39). Ao caminhar com os discípulos de Emaús, após ter
ressuscitado, Cristo falou sobre o fato de que toda a Escritura testificava dele
e que aquelas coisas deveriam acontecer (Lucas 24:25 – 27). A Teologia não pode
estar centrada no homem, mas em Cristo. A Igreja Romana, jeitosamente, colocava
o homem no centro. Eram as necessidades do homem que precisavam ser atendidas e
não a vontade de Deus expressa em Sua Palavra. Devemos nos lembrar das palavras
do apóstolo Paulo aos gálatas: “Porventura, procuro eu, agora, o favor
dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a
homens, não seria servo de Cristo” (Gálatas 1:10). Somos servos de
Cristo e não de homens. Portanto, somente Cristo.
A Teologia Reformada afirma que a Escritura e sua
doutrina sobre a graça e fé enfatizam que a salvação é Solus Christus, “somente
por Cristo”, isto é, Cristo é o único Salvador (Atos 4:12). B.B. Warfield
escreveu: “O poder salvador da fé reside, portanto, não em si mesma,
mas repousa no Salvador Todo Poderoso”.
A centralidade de Cristo é o fundamento da fé
protestante. Martinho Lutero disse que Jesus Cristo é o “centro e a
circunferência da Bíblia” — isso significa que quem Ele é e o que Ele
fez em sua morte e ressurreição são o conteúdo fundamental da Escritura. Ulrico
Zwínglio disse: “Cristo é o Cabeça de todos os crentes, os quais são o seu
corpo e, sem ele, o corpo está morto”.
Sem Cristo, nada podemos fazer, nele, podemos fazer
todas as coisas (João 15:5; Filipenses 4:13). Somente Cristo pode trazer
salvação. Paulo deixa claro em Romanos 1 – 2 que, embora haja um auto
manifestação de Deus além da sua obra salvadora em Cristo, nenhuma porção de
Teologia natural pode unir Deus e o homem. A união com Cristo é o único caminho
da salvação.
Nós precisamos urgentemente ouvir Solus Christus em
nossos dias de Teologia pluralista. Muitas pessoas hoje questionam a crença de
que a salvação é somente pela fé em Cristo. Como Carl E. Braaten (1929) diz,
eles “estão voltando à velha e falida forma de abordagem cristológica
do século XIX, do liberalismo protestante, e chamando-a de “nova”, quando, na
verdade, é pouco mais que uma “Jesusologia” superficial”. O resultado
final é que, atualmente, muitas pessoas, como Helmut Richard Niebuhr (1962)
disse em sua famosa frase a respeito do liberalismo — proclamam e adoram “um
Deus sem ira, o qual trouxe homens sem pecado para um reino sem julgamento por
meio de ministrações de um Cristo sem a cruz”.
“Arrependei-vos, e crede no evangelho
de Jesus Cristo – Marcos 1:15.
Nossos antepassados reformados, aproveitando uma
perspectiva que rastreia todo o caminho de volta aos escritos de Eusébio de
Cesaréia, no século IV, acharam útil pensar a respeito de Cristo como Profeta,
Sacerdote e Rei. A Confissão Batista de Londres de 1689, por exemplo, coloca
isso da seguinte forma: “Cristo, e somente Cristo, está apto a ser o mediador
entre Deus e o homem. Ele é o Profeta, Sacerdote e Rei da Igreja de Deus”
(8.9). Observemos mais detalhadamente esses três ofícios.
Cristo, o Profeta.
Cristo é o Profeta que precisamos para nos instruir
nas coisas de Deus, a fim de curar a nossa cegueira e ignorância. O Catecismo
de Heidelberg o chama de “nosso principal Profeta e Mestre, que nos
revelou totalmente o conselho secreto e a vontade de Deus a respeito da nossa
redenção” (A. 31). “O Senhor, teu Deus”, Moisés declarou
em Deuteronômio 18:15, “te suscitará um profeta do meio de ti, de teus
irmãos, semelhante a mim; a Ele ouvirás”. Ele é o Filho de Deus, e Deus
exige que nós o escutemos (Mateus 17:5).
Como o Profeta, Jesus é o único que pode revelar o
que Deus tem planejado na história “desde a fundação do mundo”, e que pode
ensinar e manifestar o real significado das “escrituras dos profetas” (o Antigo
Testamento, cf. Romanos 16:25, 26). Podemos esperar progredir em nossa vida
cristã apenas se dermos ouvidos à sua instrução e ensino.
Cristo, o Sacerdote.
Cristo é também o Sacerdote — nosso extremamente
necessário Sumo Sacerdote que, como diz o Catecismo de Heidelberg: “pelo
sacrifício de Seu corpo, nos redimiu, e faz contínua intercessão junto ao Pai
por nós” (A. 31). De maneira resumida, “por causa do nosso afastamento
de Deus e da imperfeição de nossos melhores serviços, precisamos de seu ofício
sacerdotal para nos reconciliar com Deus e nos tornar aceitáveis por ele”.
A salvação está somente em Jesus Cristo, porque há
duas condições que, não importa o quanto nos esforcemos, nunca poderemos
satisfazer. No entanto, elas devem ser cumpridas se estamos para ser salvos. A
primeira é satisfazer a justiça de Deus pela obediência à lei. A segunda é
pagar o preço de nossos pecados. Nós não podemos cumprir nenhuma dessas
condições, mas Cristo as cumpriu perfeitamente. Romanos 5:19 diz: “por
meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Romanos 5:10 diz: “nós,
quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho”.
Não há outra maneira de entrar na presença de Deus a não ser por meio de Cristo
somente.
O sacrifício de Jesus ocorreu apenas uma vez, mas
Ele ainda continua sendo o nosso grande Sumo Sacerdote, aquele através do qual
toda a oração e louvor são feitos aceitáveis a Deus. Nos lugares celestiais,
Ele continua sendo nosso constante Intercessor e Advogado (Romanos 8:34; 1 João
2:1). Não é de se admirar, então, que Paulo diz que a glória deve ser dada a
Deus“por meio de Jesus Cristo pelos séculos dos séculos” (Romanos
16:27). O gozo de achegarmo-nos a Deus pode crescer apenas por uma confiança
profunda nEle como nosso sacrifício e intercessor.
Cristo, o Rei.
Finalmente, Cristo é o Rei, que reina sobre todas
as coisas. Ele reina sobre sua Igreja por meio de Seu Espírito Santo (Atos 2:30
– 33). Ele soberanamente dá o arrependimento ao impenitente e concede perdão ao
culpado (Atos 5:31). Cristo é “(...) o nosso Rei eterno que nos governa
por Sua Palavra e Espírito, e que defende e preserva-nos no gozo da salvação
que Ele adquiriu para nós” (O Catecismo de Heidelberg, P&R. 31 –
cf. Salmos 2:6; Zacarias 9:9; Mateus 21:5; Lucas 1:33; Mateus 28:18; João
10:28; Apocalipse 12:10, 11). Como o Herdeiro real da nova criação, Ele nos
levará a um reino de eterna luz e amor. Neste sentido, podemos concordar com
João Calvino quando ele diz: “Nós podemos passar pacientemente por esta
vida com sua miséria, frieza, desprezo, injúrias e outros problemas —
satisfeitos com uma coisa: que o nosso Rei nunca nos deixará desamparados, mas
suprirá as nossas necessidades, até que, ao terminar nossa luta, sejamos
chamados para o triunfo”. Podemos crescer na vida cristã apenas se vivermos
obedientemente sob o domínio de Cristo e pelo Seu poder.
Se você é um filho de Deus, Cristo em seu tríplice
ofício como Profeta, Sacerdote e Rei significará tudo para você.
Você ama Solus Christus? Você o ama
em Sua pessoa, ofícios, naturezas e benefícios? Ele é o Seu Profeta para
ensinar-lhe, o Seu Sacerdote para sacrificar e interceder por você e lhe
abençoar, e o Seu Rei para governá-lo e guiá-lo?
Depois de uma execução empolgante da Nona Sinfonia
de Beethoven, o famoso maestro italiano Arturo Toscanini disse à orquestra: “Eu
não sou nada. Você não é nada. Beethoven é tudo”. Se Toscanini pode dizer
isso sobre um compositor brilhante, mas que está morto, quanto mais os
cristãos, devem dizer o mesmo sobre o Salvador que vive, o qual, no que diz
respeito à nossa salvação, é o compositor, músico e até mesmo a própria bela
música.
(3) SOLA GRATIA – SOMENTE A GRAÇA
Sola Gratia é uma das cinco solas propostos pelos
reformadores para resumir as crenças fundamentais do cristianismo. Esta
expressão latina significa: “Graça somente”, a ênfase se dava em razão da
doutrina católica vigente de que as boas obras ajudariam a salvação do homem, e
que tal ensino é diametralmente oposto do ensinamento Bíblico. Pois a Escritura
afirma: “Não vem das obras para que ninguém se glorie” –
Efésios 2:9, e o versículo anterior responde a “ordem” e motivo da salvação que
tem fonte em seu doador – Deus “Porque pela graça sois salvos, por meio
da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”. As boas obras em Si
testificam de uma Fé genuína dada por Deus, sem contribuir em nada para
salvação do homem.
“As obras não contribuem em nada para
a salvação do homem, mas o poder de Deus faz com que homens façam aquilo que
jamais seriam capazes de fazer por uma graça dada de forma incondicional, e
para gozarem pela fé daquilo que jamais seriam capazes de realizar, pela pessoa
e obra de Jesus o Cristo – foi realizado o cumprimento da justiça de Deus para
salvação e resgate daqueles que não eram resgatáveis”. Por isso a
salvação é pela graça de Deus e não por obras. “A Lei dizia: Faça e
viva! – A graça diz: Viva e faça! ”.
A Igreja Romana ensinava que a graça de Deus era
concedida ao crente à medida que ele cooperava com ela. Os reformadores se
levantaram contra isso afirmando a verdade bíblia de que a graça é imerecida.
Em momento algum, mesmo que realizando um ato de extrema bondade aos olhos dos
homens, somos indignos de qualquer merecimento da parte de Deus – não merecemos
absolutamente nada da parte de Deus, apenas a condenação pelos os nossos
pecados. Afirmar que o homem coopera com a graça de Deus é buscar uma pregação
centrada no homem e não em Deus, “porque Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Filipenses 2:13).
Lembramos, ainda, das palavras de Paulo aos Romanos: “Assim, pois, não
depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Romanos
9:16). Mesmo no meio evangélico, por vezes, há o equívoco de se pregar uma
graça divina submissa à vontade do homem. Dizem os pregadores que, pedindo com
insistência, fazendo jejuns, “correntes”, e coisas parecidas, Deus vai
responder ao que se está pedindo. Dificilmente se fala sobre a condição
miserável do homem em sua natureza pecaminosa e sua necessidade total da
maravilhosa graça de Deus. Precisamos urgentemente reafirmar: Somente a
graça.
(4) SOLA FIDE – SOMENTE PELA FÉ
Sola finde é o ensinamento de que a justificação
(interpretada na Teologia protestante como “sendo declarada apenas por Deus”) é
recebida somente pela fé, sem qualquer interferência ou necessidade de boas
obras, embora na Teologia protestante clássica, a fé salvadora é sempre
evidenciada, mas não determinada, pelas boas obras. Alguns protestantes veem
esta doutrina como sendo o resumo da fórmula “fé produz justificação e boas
obras” e em contraste com a fórmula católica romana “fé e boas obras rendem
justificação”. O argumento católico é baseado de forma equivocada na Epístola
de Tiago (Tiago 2:14 – 17).
É importante a comparação do que católicos e
protestantes entendem como “justificação”: ambos concordam que o termo invoca a
comunicação dos méritos de Cristo para com os pecadores, e não uma declaração
de ausência de pecado. Lutero usou a expressão “simul justus et
peccator” (“ao mesmo tempo, justo e pecador”). O Catolicismo Romano vê a
justificação como uma comunicação de vida de Deus ao ser humano, limpando-o do
pecado e transformando-o realmente em filho de Deus, de modo que não é apenas
uma declaração, mas a alma é tornada de fato objetivamente justa.
A visão protestante da justificação é que ela é a
obra de Deus através dos meios da graça. A fé é a justiça de Deus, que é
realizada em nós através da palavra e dos sacramentos. Lei e evangelho
trabalham para matar o ego pecaminoso e para realizar a nova criação dentro de
nós (Regeneração – novo nascimento). Esta nova criação dentro de nós é a fé de
Cristo. Se não temos essa fé, então somos ímpios. Indulgências, ou orações não
acrescentam nada e nada são. Todos possuem algum tipo de fé (geralmente a fé em
si mesmos). Mas precisamos de Deus para destruir continuamente fé hipócrita e
substituí-la com a vida de Cristo. Precisamos da fé que vem de Deus através da
lei e do evangelho, palavra, obras e sacramentos. No documento fundador da
Reforma, as 95 teses, Lutero diz que:
1 – Dizendo nosso Senhor e Mestre
Jesus Cristo: “Arrependei-vos (...)” – Mateus 4:17, certamente quer que toda a
vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.
95 – E assim esperem mais entrar no
Reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados diante de
consolações infundadas. (Atos 14:22).
A verdadeira distinção, portanto, entre as visões
protestante e católica não é uma questão de “ser declarado justo” versus “ser
feito justo”, mas sim o meio pelo qual um é justificado. Na Teologia católica
obras de justiça são consideradas meritórias para a salvação além da fé,
enquanto que na Teologia protestante, obras de justiça são vistos como o
resultado e evidência de uma verdadeira justificação e regeneração que o crente
recebeu somente pela fé. Os meios eficazes reais pelos quais uma pessoa recebe
a justificação são também uma divisão fundamental entre a crença católica e
protestante. Na Teologia católica, o meio pelo qual a justificação é aplicada
para a alma é o sacramento do batismo. No batismo, mesmo das crianças, a graça
da justificação e santificação são “infundidas” na alma, tornando o
destinatário justificado, mesmo antes que ele exerça sua própria fé (ou mesmo
no caso de uma criança que é batizada, antes mesmo que ele tenha a capacidade
de compreender conscientemente o Evangelho e responder com fé). Na Teologia
católica, a fé não é um pré-requisito para a justificação. Para os católicos, a
função do batismo é “ex operere operato” ou “por obra
do ato”, e, portanto, é o ato eficaz e suficiente para trazer justificação.
Na Teologia protestante, no entanto, é absolutamente necessária a fé do
indivíduo e é por si mesma a resposta eficiente e suficiente do indivíduo para
os efeitos da justificação.
A doutrina Sola Fide é às vezes chamada de
princípio formal e material da Teologia da Reforma, porque era a questão
doutrinal central para Martinho Lutero e os outros reformadores. Lutero chamou
de “doutrina pela qual a Igreja permanece ou cai – latim: “articulus
stantis et cadentis ecclesiae”.
A Igreja Romana não negou a necessidade da fé para
a salvação. Porém, eles referiam-se a uma fé que, na verdade, era um mero
consentimento ao ensino da Igreja. Não é essa a fé da qual fala bíblia. Os
reformadores demonstraram que a fé que traz a salvação é a confiança na
promessa de Deus e Cristo de salvar pecadores.
Somos tornados justos pelo sacrifício perfeito de
Cristo, pois somente Ele é perfeitamente justo. A justiça de Cristo é imputada
a nós pela fé. Não se trata de uma fé, que também seria “cooperativa”, mas da
fé que nos é concedida por Deus: “Porque pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Efésios 2:8). Como
antes já citado.
Devemos ter fé, mas é preciso esforço, empenho,
pois podemos “cair da graça” de forma definitiva a sermos condenados, é o que
dizem muitas pregações que não são sustentadas pela Escritura, de fato podemos
“cair da graça” temporariamente, mas seremos salvos como eleitos de Deus pela
fé em Cristo Jesus. A palavra de Deus nos ensina: Somente pela fé (em Cristo)
seremos salvos, “Quem crer (...) será salvo” – Marcos 16:16.
(5) SOLI DEO GLORIA – SOMENTE GLÓRIA
A DEUS
“Pregar a Escritura é pregar a
Cristo, pregar Cristo é pregar a cruz, pregar a cruz é pregar a graça, pregar a
graça é pregar a justificação, pregar a justificação é atribuir o todo da
salvação à glória de Deus e responder a essa Boa Nova em grata obediência por
meio de nossa vocação no mundo”. (Michael Horton, “Os Solas da Reforma” in
Reforma Hoje, Editora Cultura Cristã, 1999, pág. 124).
Essa frase de Michael Horton resume bem o que
representam os Solas da Reforma. Tudo resulta na glória de Deus. Toda a glória
é devida ao Seu nome. Deus revelou-se através das Escrituras, enviou Seu Filho
para morrer no lugar de Seus escolhidos, concedendo, somente por Sua graça, a
salvação pela fé. Os alcançados pela graça divina rendem louvores em espírito e
em verdade ao Deus Todo-Poderoso.
Devemos nos perguntar se reconhecemos de fato que
somente Deus é digno de adoração. É isso que transparece em nossos cultos?
Neles, exalta-se o nome de Deus, ou o “grande” pregador, o pastor que cura, e o
conjunto musical? Os pregadores, em seus púlpitos, estão preocupados em render
glória a Deus por meio de sua pregação ou somente em fornecer mensagens
“confortadoras” ou intelectuais para o rebanho, servindo como um momento de
“relaxamento”, vaidades e “descontração”? Devemos ter em mente que toda Glória
deve ser dada Somente a Deus. Sola Gratia é o ensinamento de que salvação vem
por graça divina ou “favor imerecido” apenas, e não como algo merecido pelo
pecador. Isto significa que a salvação é um dom imerecido de Deus por causa de
Jesus o Cristo.
CONCLUSÃO
A Reforma Protestante foi marcada por homens que
decidiram seguir a Jesus, que fizeram de suas vidas um testemunho do que Deus
pode fazer na vida de qualquer um de nós. Devemos estar dispostos a, assim como
aqueles homens, defender as doutrinas principais da bíblia e proclamá-la em
alto e bom som em amor e justiça.
Que Deus nos conceda ousadia e coragem para
anunciarmos a verdade de sua palavra àqueles que estão em caminhos tortuosos.
Paz e graça.
Citações: (1) Declaração de Cambridge. (2) Sproul,
Robert Charles (2013), Sola Gratia. A controvérsia sobre o livre arbítrio ao
longo da história. (3) Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras. (4)
Lutero, Martinho, As 95 Teses.
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