Analisando a "Visão Celular" de César Castellanos

Analisando a "Visão Celular" de César Castellanos

Ricardo Becerra
Um Encontro com os "Encontros" do G12

Tradução: Sérgio Salém


Tendo começado na América do Sul, o movimento G12 continua expandindo-se pelo mundo com a promessa de trazer crescimento às igrejas que adotem seu sistema.

Isso não obstante, da mesma maneira que o movimento cresce e se expande, o mesmo acontece com a controvérsia que o rodeia. Tal movimento também é conhecido por “Visão Celular”, “Grupo dos 12”, “Governo dos 12”, ou pelo apelido “Os Encontros”.
Primeiramente devemos esclarecer que o evangelismo, o discipulado e a santidade são enfatizados na Bíblia e muitas vezes descuidados pelas igrejas evangélicas. Porém, quando são enfatizados ao extremo de uma maneira não bíblica, podem promover uma oportunidade para a manipulação e o abuso.

Por seis anos temos recebido queixas e pedidos de ajuda de pastores e cristãos que têm experimentado algum tipo de dano causado pelo movimento G12, o qual a alguns tem destruído a fé, ou trazido confusão em relação a suas crenças básicas.

Em outros casos, igrejas e famílias têm sido divididas, e em alguns casos extremos existem evidências claras de danos psicológicos temporais.
A analise seguinte está baseada na literatura publicado por seu fundador, César Castellanos, e entrevistas com pessoas de diferentes igrejas e denominações que participaram dos Encontros em sete diferentes países.
Na primeira parte deste artigo descreveremos como funciona o G12. Na segunda parte analisaremos algumas preocupantes doutrinas e práticas do movimento à luz da Bíblia
INÍCIO DA “VISÃO”
O movimento G12 é resultado de uma série de revelações que o pastor colombiano César Castellanos afirma ter recebido diretamente da parte de Deus. Em 1982, Castellanos renunciou ao pastorado de uma pequena igreja, alegando estar cansado de ver que os fieis dela a deixavam e ele corria a buscá-los “para rogar-lhes que não a abandonassem.”1
Sua decisão estava tomada: Castellanos não regressaria ao ministério enquanto Deus não lhe falasse diretamente.
Alguns meses mais tarde, enquanto percorria de férias a costa Atlântica colombiana, Deus lhe teria falado, dizendo-lhe que sonhara com uma igreja muito grande, porque a igreja que ele, Castellanos, iria pastorear seria tão numerosa como as estrelas do céu e as areias do mar, uma multidão tal que não se poderia contar2.

Depois de ter recebido essa mensagem da parte de Deus, Castellanos decidiu regressar ao ministério. Em março de 1983 deu início à igreja Missão Carismática Internacional, que começou com apenas oito pessoas; hoje é conhecida como a maior da Colômbia e da América Latina.
Três anos mais tarde, Castellanos, em seu afã de ter uma igreja grande, decidiu visitar a mega-igreja do sul-coreano David (Paul) Yonggi Cho, para adaptar e implementar o método celular em sua congregação na Colômbia.
Cinco anos depois que Castellanos implementou em sua igreja a estratégia célular de Cho, não viu os resultados que buscava. A igreja contava com apenas 70 células.

Por isso, ele resolveu clamar a Deus novamente para que lhe dissesse algo que o ajudasse a acelerar o crescimento de sua igreja. Castellanos afirma que foi nesse ano, 1991, que Deus lhe revelou o modelo dos 12. Diz ele:
"Deus me tirou o véu. Foi então quando obtive com clareza o modelo que agora revoluciona o mundo quanto ao conceito mais eficaz para a multiplicação da igreja: Os doze. Deus o justificou, recordando-me o modo como Jesus havia trabalhado com seus doze discípulos".3
Atualmente, a Missão Carismática Internacional afirma ter mais de 55.000 células e mais de 100.000 membros.
“A VISÃO” DO SÉCULO XXI
Castellanos assegura que sua visão celular é a que vai revolucionar a Igreja no Século XXI:
"A frutificação neste milênio será tão incalculável que a colheita só poderá ser alcançada por igrejas que tenham entrado na visão celular. Não há alternativa: a igreja celular é a igreja do Século XXI".4

Castellanos crê que os pastores que não aceitem sua “visão celular” não estão cumprindo com a Grande Comissão:
"Todo líder deve saber que há um tempo de graça em que o cumprimento da Grande Comissão deve fazer-se de maneira eficiente. Isto é possível através da visão celular".5

"Pode-se dizer que um pastor que não entre nesta dimensão está matando o progresso do evangelho em sua área".6

"Para poder mover-se de acordo com as exigências do Século XXI, todo pastor deve mudar sua maneira de pensar, romper os moldes e entrar na visão celular; se um pastor muda, o milagre já está feito, pois desta maneira poderá influenciar toda sua comunidade".7
A visão de César Castellanos garante trazer conhecimento a uma igreja quando esta abandona o que está fazendo tradicionalmente, e adota “a visão” em sua totalidade. Castellanos declara: “ o modelo dos doze é muito zeloso, ou se o adota em sua totalidade ou não, não há meios termos”.8

Castellanos assevera que Deus lhe revelou que nos anos vindouros as pessoas serão salvas somente através de sua “estrutura celular”:
"Haverá gente faminta por conhecer a mensagem de salvação, milhões e milhões correrão pelas ruas demonstrando seu desejo de saber de Cristo e a única estrutura que permitirá estarem preparados para isso é a estrutura celular".9
Castellanos não vacila em enfatizar o papel especial que ele desempenha na história do cristianismo. Em seu livro Sonha e Ganharás o Mundo, descreve uma profecia feita por Bill Hammond e Cindy Jacobs em 1997, na qual supostamente Deus lhe disse:
"Filho, eu te enviei para a cura dos Estados Unidos, filho meu, poderia ter falado a outra pessoa para tal missão, mas foi a ti que pedi, foi a ti que pedi...eu te unjo como a José para ir ao Egito e resgatar a nação".10
"...Deste dia em diante falarás com autoridade apostólica, com nova unção. Nações levantar-se-ão e cairão com a palavra profética que sairá de teus lábios".11

A ÊNFASE E A ESPIRITUALIZAÇÃO DO NÚMERO 12
Castellanos tenta justificar seu conceito dos 12 com a Bíblia. Diz que “o número 12 sempre aparece na Bíblia como símbolo de plenitude administrativa e autoridade espiritual”.12

Assinala que Deus estabeleceu doze patriarcas (Gên. 35:22-26); doze foram as pedras no peitoral (Ex. 28:29); e “com doze pessoas Jesus alimentou as multidões (Mat. 6:35-44) e com eles estabeleceu seu reino na terra”.13
PASTORES QUE ADOTAM O G12 EM SUAS IGREJA
Pastores viajam a Colômbia para aprender e adotar a estratégia do G12. Ali são incentivados a comprar os livros de César Castellanos para poder implementar a estratégia em suas respectivas igrejas.

Ao regressar às suas igrejas, selecionarão e treinarão 12 pessoas de suas respectivas congregações com a estratégia do G12. Estas serão os “Doze do pastor”.14

Estes deverão fazer o mesmo, buscando seus 12 e estes a seus doze, etc., através de células em seus lares, “selecionando aqueles que tenham mais êxito em dar fruto”.15

É importante assinalar que segundo numerosos testemunhos, o processo que abaixo se descreve caracteriza-se por uma grande pressão a submeterem-se e fazer proselitismo; como se lia num cartaz anunciando do lado de fora de uma igreja G12 em El Salvador: “A célula que não se evangeliza fossiliza-se.”

AS CÉLULAS DO G12
Os doze escolhidos pelo pastor deverão buscar um “Anfitrião” que abra sua casa para iniciar uma célula. O líder é assistido por um “Timóteo”, e este é responsável por abrir novas células depois que o grupo chegar a ter mais de 12 pessoas.

Uma célula pode começar com 6 pessoas. Em cada reunião aplica-se a estratégia da sala vazia, onde os participantes comprometem-se a convidar alguém para que a sala seja ocupada por uma nova pessoa na reunião seguinte. César Castellanos diz que ganhar um novo crente por semana deve ser a meta mínima.16

“METAS DE CRESCIMENTO”
Diferentemente das células tradicionais, o sistema do G12 exige que cada líder celular e seus respectivos membros adotem “metas de crescimento”.

A “meta” pode ser semanal e consiste em “ganhar um novo crente por semana”, ou pode ser mensal, quando se requer do líder de tal célula abrir uma nova célula por mês. Ao fim de 12 meses dever-se-á ter pelo menos 12 células, e em 24 meses uma média de 144 células.

O DISCIPULADO DOS 12
Na estratégia dos 12 o discipulado é chave para o desenvolvimento da igreja. O líder tem a responsabilidade de buscar os seus doze através das células que abre. Selecionará aqueles que parecem trazer mais pessoas à célula.

Isso não obstante, antes de ser considerado um “discípulo” o escolhido deve estar dirigindo pelo menos uma célula. Assim não sendo, não pode ser parte dos doze de alguém, nem ser considerado um “discípulo”

Quando um crente chega a ser um discípulo de alguém e forma parte de um grupo de doze, deverá submeter-se à autoridade do líder que o escolheu. E quando esse discípulo chega a ter seus próprios doze, estes também submeter-se-ão a ele.

OUTRAS RESPONSABILIDADES DO LIDER DA CÉLULA
Cada líder tem três responsabilidades principais: A primeira é reunir-se uma vez por semana com seu líder (dos doze a que pertence); a segunda é dirigir seu grupo célula semanalmente; a terceira é reunir-se com seus doze semanalmente.

Quando o líder tenha seus doze, terá de ajudá-los a obter seus doze até que as pessoas que estejam sob sua direção cheguem às 144 (com seu líder no topo da pirâmide). A partir daí, o líder já não dirigirá sua própria célula, mas apenas supervisionará seus doze, assegurando-se de que tudo corra bem.

PROCESSO PELO QUAL PASSAM OS NOVOS CONVERTIDOS
Devemos ressaltar que alguns dos passos que mencionaremos aqui podem variar de país a país e de igreja a igreja que tenham adaptado a estratégia G12.
Geralmente o não crente que começa a assistir a uma célula e recebe a Jesus Cristo como seu Salvador, assistirá reunião da igreja no domingo e ali responderá de novo a um chamado do altar.
PRÉ-ENCONTRO
Em seguida o novo crente passará por uma série de quatro estudos:

1 – Certeza de salvação
2 – Conhecendo o poder da oração
3 – Descobrindo o poder das Escrituras
4 – Princípios sobre Libertação

Cada estudo dura uma hora e é dividido semanalmente por quatro semanas. Estes estudos preparam o novo crente para o “Encontro”.

ENCONTRO
Em muitos aspectos, os Encontros do G12 funcionam como os retiros realizados pela Igreja Católica Romana, chamados “Cursílhos”. No G12 os retiros também duram três dias e há retiros separados para homens e mulheres.
Durante os Encontros do G12 o novo crente e os já convertidos passam por várias sessões. Começam com “O Verdadeiro Arrependimento”. Depois são todos ministrados com Cura Interior.17

São libertos de qualquer demônio que tenha entrado durante a infância ou por pecados cometidos deliberadamente.
Identificam e quebrantam toda a maldição hereditária.18

Capacitam-nos a receber a plenitude do Espírito Santo (a falar em línguas) e antes de concluir o retiro os participantes são doutrinados com “A Visão Celular” de César Castellanos.
Em muitos casos as igrejas proíbem os encontristas de contar a outros o que acontece durante o Encontro, especialmente àqueles que não tenham assistido a um Encontro. Para tanto, quando alguém lhes pergunta como foi o Encontro, eles devem responder: “O Encontro foi tremendo”.

O QUE ACONTECE NOS ENCONTROS?
Devemos esclarecer novamente que os aspectos aqui mencionados podem variar de país a país e de igreja a igreja. Isso não obstante, baseado nas entrevistas que tivemos com pessoas que participaram de Encontros, os seguintes aspectos parecem ser o denominador comum do que ocorre nesses retiros.
INÍCIO DO ENCONTRO
Quando os encontristas assistem a um Encontro não lhes é informado o lugar exato onde o evento será realizado. Os organizadores do encontro estão tão determinados a não revelar sua localização que os encontristas são levados àquele lugar às sextas-feiras, ao entardecer, para ali chegarem durante a noite.

Ao fazê-lo, os encontristas são instruídos pelos líderes ou guias a remover e entregar seus relógios, telefones celulares, câmaras, gravadores, vídeocâmares, etc.. São informados de que não querem que tais aparatos lhes sirvam de distração durante o Encontro.

Castellanos ensina que quando o Encontro começa, “ninguém pode sair do local durante o curso do evento”.19

Ainda que alguém queira sair, não o poderá, por não ter sequer noção do lugar em que se encontra. Temos notícia de que em alguns Encontros de jovens, as portas têm sido trancadas com cadeados para evitar que alguém saia.

“A CLÍNICA”
Castellanos ensina que ao iniciar o Encontro a pessoa deve confrontar-se com seu pecado, suas causas e conseqüências. Para tanto, é necessário fazer uma lista de pecados.20

Em alguns encontros tal lista já terá sido preparada de antemão para que os encontristas, durante três dias, listem quaisquer pecados que tenham cometido durante suas vidas. Em tal lista os participantes devem anotar seus nomes e indicar a que igreja pertencem. A essa lista dão o nome de “a clínica”.

“O VERDADEIRO ARREPENDIMENTO”
Os encontristas, então, passam pelo que Castellanos chama o “verdadeiro arrependimento”. O objetivo de tal sessão é induzir os participantes a sentirem-se sujos e miseráveis em virtude dos pecados cometidos durante suas vidas.

Castellanos ensina que o “verdadeiro arrependimento” ocorre quando os participantes são quebrantados pelos pecados e sentem dor e vergonha por haverem feito o mal.21

Castellanos não parece dar detalhes específicos sobre como levar a cabo esse ponto durante os Encontros.Por isso, quando os líderes adotam a visão de Castellanos e dirigem seus próprios Encontros, valem-se de sua própria imaginação para poder lograr tal objetivo junto aos participantes.
Em alguns Encontros tem-se dito que durante essa sessão, os participantes (incrédulos, crentes novos e cristãos de outras igrejas) são tratados e considerados no mesmo nível espiritual. Todos são instruídos a recordar os pecados que tenham cometido.

Disseram-me que durante a ministração de uma dessas sessões, introduziu-se uma gravação em fita, na qual se escutava o desenrolar de uma cena de abuso familiar. Da fita escutam-se os gritos da mãe aterrorizada por seu marido que intentava espancá-la.

A gravação dura cerca de 10 minutos e é ouvida a todo volume, ensejando que as emoções dos participantes sejam “quebrantadas” e eles peçam perdão a Deus.
Em outro Encontro tira-se o coração de um animal e se pede aos participantes que passem à frente e cada um apunhale aquele coração. Os dirigentes ensinam que é isso que cada um faz com o coração de Jesus Cristo quando se peca.

Em outro Encontro apresentam aos participantes um coração de pano que é submergido num recipiente contendo tinta vermelha. Em seguida tiram o coração empapado dessa tinta vermelha e jogam-no ao chão, onde é pisoteado pelo dirigente da sessão, ensinando com isso que é o que fazem os participantes com o sangue e o coração de Jesus Cristo cada vez que pecam.

Quando o dirigente pisoteia esse coração, salpica os presentes de tinta vermelha. Ao término da sessão o lugar da reunião acaba por ficar manchado de tinta vermelha por todos os lados.

Em outro Encontro dá-se aos participantes a cheirar um pouco de excremento para que sintam o quão malcheiroso é o pecado. O objetivo de tão estranhas práticas é convencer os participantes de quão pecadores são e quão necessitados estão do perdão de Deus.
Em alguns Encontros, “a clínica” (a lista de pecados) é eventualmente queimada em uma fogueira, “fazendo-se um firme compromisso de deixar a vida passada e viver uma nova vida em Cristo!”22

Em outros Encontros a lista é cravada em uma cruz de madeira, simbolizando que aqueles pecados foram os que pregaram a Jesus na cruz.

CURA INTERIOR
Outra sessão por que passam os encontristas é a “Cura Interior”, também conhecida como a “Cura da Alma”, “Cura Integral” ou “Cura das Lembranças”. Castellanos diz:
“As feridas causadas pela rejeição na infância, o ter vivido experiências traumáticas na adolescência, situações relacionadas com sua vida pecaminosa no passado, a influência exercida por práticas de ocultismo, noivados e relações familiares conflitantes, maldições proferidas por pais ou pessoas com certo nível de autoridade sobre ela...(estas) ligações devem ser repreendidas e cortadas de cada vida.”23
“A cura interior e o livramento, constituem etapas pelas quais todo cristão compromissado deve passar”24

O PROCESSO DA CURA INTERIOR
Os encontristas devem identificar em cada etapa de suas vidas como foi que aconteceu a experiência traumática, para poder entrar e “curar a ferida”.
O dirigente ou o “guia” ajuda os encontristas a identificar seu trauma, induzindo-os a auto-sugestionarem-se com as possíveis crises que poderiam ter experimentado durante a vida de cada qual. Levam-nos desde o tempo em que viveram no ventre materno até o presente, sugerindo que:

° Você foi o resultado de uma gravidez não planejada.
° Quando você nasceu seus pais expressaram sua desilusão por não ter sido do sexo que esperavam.
° Ninguém se alegrou com seu nascimento.
° Você cresceu com falta de amor por parte de seus pais.
° Seus pais demonstravam preferência por seus irmãos em relação a você.
° Você foi abandonado por seus pais.
° Você foi abusado sexualmente.
° Não encontrou ajuda em nenhuma parte
° Nunca conseguiu sobressair-se em nada.
° Acreditou que carecia de valor ante os demais, o que gerou uma baixa estima.
LISTA DE TRAUMAS
Depois de auto-sugestionarem-se pelos diferentes traumas por que podem haver passado, em algumas sessões pede-se aos participantes que façam uma lista das pessoas que os maltrataram (ou lhes fizeram algum dano) em algum dos aspectos já mencionados.
SESSÃO DA CURA INTERIOR
Depois de fazer a lista e de avaliar cada etapa de suas vidas, o dirigente emprega a técnica psicológica de regressão para levar o encontrista ao momento histórico em que aconteceu o fato traumático.

Pede-se-lhe para recriar, por meio da imaginação ou de visualização (“olhos da fé”) o fato doloroso. Em seguida pedem em oração a Jesus que tome sobre si a ofensa ou a ferida infligida. Desse modo o participante fica livre dessa opressão.
Depois de pedir ao Jesus imaginário que leve em seu corpo aquela agressão, humilhação ou vergonha por que alguém o fez passar, é necessário transmitir o perdão a esse alguém. Isso se pode conseguir pedindo-se a outro encontrista que ocupe o lugar do ofensor, para perdoá-lo.

A CURA INTERIOR É NECESSÁRIA E NÃO OPCIONAL
César Castelanos ensina que se o cristão deseja ser um crente “comprometido” e “quer desenvolver uma vida cristã produtiva” (trazer crescimento à sua igreja), necessita passar por uma sessão de Cura Interior. Ele diz:
"Cada novo crente experimenta uma proximidade mais genuína com o Senhor... em processo de liberação e cura interior que cada um necessita para desenvolver uma vida cristã produtiva".25
"Existem líderes e pastores ansiosos por alcançar um ministério de amplas proporções, porém as feridas da alma estão aí e caso se almeje servir fiel e produtivamente ao Senhor, essas feridas têm de ser curadas. Para poder ministrar a outros, primeiro há que ser ministrado a você".26
EXPULSANDO DEMÔNIOS EM CRISTÃOS E PASTORES
Castelanos crê e ensina que todo cristão, incluindo pastores, necessitam ser liberados de ataduras demoníacas para poderem chegar a ser crentes entregues à obra e trazer crescimento numérico à sua congregação. Portanto, na teologia de Castellanos, a libertação de demônios no crente não é opcional:
"Está comprovado que espíritos demoníacos controlam as vidas impedindo-as de se desenvolverem como cristãos autênticos".27
"Todos temos necessidade de libertação".28
Jesus mesmo praticou a libertação nos 12 apóstolos, diz Castellanos:
"Jesus o fez com seus doze discípulos. Quando Ele os enviou, eles seguramente haviam recebido de parte de Jesus libertação".29

MALDIÇÕES HEREDITÁRIAS
Castelanos também crê e ensina que os crentes necessitam ser libertos de quaisquer maldições ou participação ocultista de seus ancestrais:
"Devemos... confessar cada pecado de nossos ancestrais e arrepender-nos rompendo assim qualquer relação com o oculto, perdoar a outros, renunciar a toda maldição (Mat. 16:19)".30

MALDIÇÕES ANCESTRAIS IMPEDEM O CRESCIMENTO DA IGREJA
Castelanos ensina que a libertação de maldições é essencial para trazer o crescimento numérico à igreja:
"Um dos primeiros passos para que um novo crente se multiplique e seja uma bênção para a obra, para si mesmo e para sua família é que seja liberto de toda maldição".31
"Um ministério não se multiplicará até que as maldições que amarram a cada um de seus membros sejam cortadas".32

PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO
Depois que os encontristas são libertados de todos os seus demônios, os assistentes estão preparados para receber a plenitude do Espírito Santo, com o dom de falar em línguas. Diz Castelanos:
"...para que a gente fale em línguas com liberdade primeiro há que serem rompidas maldições que existam neles e pôr para fora toda a possessão demoníaca em nome de Jesus...".33
Um grupo de estudiosos das Assembléias de Deus em Cuba observou o seguinte sobre esse aspecto: “Para alcançar este objetivo os guias prorrompem em longas orações, manifestações de êxtase e manipulação neurolingüística. Tudo isso para que o participante ore em línguas. É tal a pressão, que faz com que muitos finjam, por temor de serem menosprezados pelo grupo. A oração com imposição de mãos não falta, tanto quanto os empurrões para que as pessoas caiam ao chão `sob o poder do espírito`".34

A PURIFICAÇÃO
Em El Salvador conta-se que numa das sessões do Encontro intenta-se ilustrar aos assistentes as purificações do seguinte modo: Os líderes colocam frente aos participantes uma assadeira com fogo.

Então começam a sacar partes de órgãos de animais de um recipiente, colocando-os sobre a assadeira. Tomam de uma língua e a atiram sobre a assadeira, ao mesmo tempo em que dizem aos participantes que simbolicamente toquem em suas línguas e a atirem sobre a assadeira para que, assim como a língua do animal é queimada, também seja queimada figuradamente a sua língua.

Dessa forma, ela poderá ser usada somente para falar coisas edificantes e não palavras ofensivas. Em seguida fazem o mesmo com os olhos, para que estes sejam queimados e possam ver apenas coisas boas.

Em seguida reiteram o procedimento com as orelhas do animal e os participantes repetem a queima simbólica de seus órgão auditivos, a fim de que escutem apenas coisas que edifiquem. Os testículos dos animais também são queimados. O ritual simbólico dos participantes, nesse caso, ajudá-los-á a serem fiéis aos seus cônjuges e a poder abster-se de ter relações ilícitas antes do casamento.
A PROSPERIDADE
No último dia do retiro levanta-se uma oferta. Primeiro recolhem qualquer oferta monetária que os assistentes possam dar. Depois a sessão passa a outro nível, no qual se continua insistindo que ofertem qualquer pertence de valor que os assistentes possam trazer.

Dizem-lhes que “dêem tudo quanto tenham”. Em dois diferentes Encontros realizado em El Salvador, dois distintos entrevistados disseram que lhes diziam: “Se não dão, sua economia será maldita”, e para manipular as pessoas para que oferecessem mais do que já haviam dado foi à frente um líder que deu testemunho de como Deus o havia prosperado depois de haver dado tudo quanto trazia consigo.

Outros líderes o seguiram e começaram a dar todos os seus pertences valiosos, o que motivou os participantes a levantarem-se para dar jóias valiosas, suas carteiras, e alguns deram até seus sapatos, voltando para suas casas descalços. Essa sessão durou mais de uma hora.

DOUTRINAMENTO SOBRE A “VISÃO CELULAR”
Antes de terminar o retiro os assistentes são doutrinados com a “Visão Celular” de César Castellanos. É-lhes ensinado que cada pessoa é um “líder” e que devem buscar seus doze discípulos que ele ou ela dirigirão, como o próprio Jesus havia feito, e que esses doze farão o mesmo com seus próprios doze.

Os doze deverão ser escolhidos através das células que a pessoa abrirá. Todos devem seguir e obedecer a visão celular de Castellanos. Devem comprometer-se a convidar a outros para participarem de um Encontro.
Temos recebido informações de que os participantes são obrigados a fazer um pacto com Deus e até a firmar um compromisso de que enviarão pelo menos três pessoas a um Encontro. A pessoa que convida custeia os gastos do Encontro para a pessoa convidada.

Em alguns países a pressão para trazer outros a um Encontro é tão intensa que a pessoa que convida não só deve custear os gastos do convidado como também pagar-lhe o salário dos dias de trabalho que ele, o convidado, possa perder para assistir a um Encontro.
Castellanos proclama que assistir a um Encontro de três dias “eqüivale a um ano de crescimento espiritual”.35 Além disso, as sessões que se realizam nos Encontros não parecem ser opcionais para os encontristas, mas o que se requer é que todos participem delas.
POS-ENCONTROS
Depois do Encontro o convertido passará pelo Pos-Encontro. Neste receberá outra série de ensinos que durarão uma hora a cada semana pelos três meses seguintes. “Os fundamentos da Fé, Crescendo no Serviço Cristão, e o Caráter Cristão”. 36 Tais lições preparam o convertido a assistir à “Escola de Líderes”.

ESCOLA DE LÍDERES
A Escola de Líderes realiza-se a cada semana por duas horas, pelo prazo de um ano. Um dos requisitos para graduar-se na Escola de Líderes é haver começado uma célula para o terceiro trimestre.

REENCONTRO
O Reencontro é outro retiro de três ou quatro dias para reafirmar o compromisso do primeiro. Novamente os temas tratados no retiro são: nossa posição em Cristo, a vitória sobre o pecado, libertação pessoal e a visão da igreja.
Castellanos declara que Deus revelou-lhe que esta capacitação não é opcional.37 Portanto, todos devem passar por tal procedimento caso desejem obter a multiplicação na igreja.

Além disso, Castellanos diz que este programa não toma mais de seis meses para preparar um novo crente para que comece a dar frutos (fazer proselitismo).38

INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO DA FÉ
Outra doutrina que César Castellanos incorporou á sua “Visão Celular” é a controvertida doutrina da confissão positiva do Movimento da Fé.

Castellanos crê que através do poder das palavras alguém pode conseguir as coisas que deseja para a sua existência. Isso se pode observar quando Castellanos cita (e interpreta mal) Provérbios 6:2-3:
"O homem se enreda no que diz, porque suas palavras atraem as forças espirituais, e uma pessoa se pode atar com bênção ou com maldição".39 (sic)
Castellanos explica mais adiante:
"Todas as coisas que desejamos já existem, estão na dimensão espiritual, isto é, na dimensão da bênção divina. Porém é necessário entrar no sobrenatural e transportá-las, quer dizer, tomá-las e nos apropriarmos delas por meio da fé, fazendo-as realidade em nossas vidas".40
"Uma pessoa enferma...que crê na palavra de Deus, por fé, começa a confessar sua cura, já que a fé o faz um conquistador, permitindo-lhe observar o milagre instantaneamente".41

CONCLUSÃO
Os leitores poderão observar que muito poucos elementos do movimento G12 são novos. Os grupos celulares, discipulado, retiros espirituais, falar em línguas, cura interior, libertação, e a teologia da prosperidade já foram enfatizados anteriormente por outros pregadores do movimento pentecostal.

Isso não obstante, o movimento G12 tem elevado tudo isso ao grau de “êxito” através da pressão e da manipulação. Na Segunda parte deste artigo examinaremos os ensinos e práticas do G12 à luz da Bíblia, junto com testemunhos de pessoas que têm sofrido por causa desse sistema não bíblico.