IGREJA E DENOMINAÇÃO PORQUE TANTA DIFERENÇA

terça-feira, 1 de julho de 2014

TEOLOGANDO COM VOCÊ

ALUNO DO CRISTO, AMANTE DA VIDA, AMIGO DO HUMANO, ADMIRADOR DA CRIAÇÃO, AUXILIAR DA SOCIDADE.

A RESSURREIÇÃO COMO UMA PARTE DA VERDADE CRISTÃ



tumulo vazio
 


Traduzido por Fabrício Moraes

No presente artigo, não pretendo expor o significado pleno da ressurreição de Cristo. Antes, meu propósito é debruçar sobre a necessidade de relacionar o fato da ressurreição com o sistema da verdade cristã como um todo. A ressurreição de Cristo é um fato, e seu significado ser-nos-á ininteligível somente se pensarmos nela como estando relacionada ao sistema da verdade cristã tomado como uma unidade indivisa.
A ressurreição caminha intimamente ao lado da morte de Cristo e está imediatamente conectada a ela. Ninguém tentará imaginar uma ressurreição sem uma morte precedente. Mas devemos ir além da mera afirmação dessa verdade geral. Se Cristo é o segundo Adão, Sua ressurreição sucede a morte do primeiro Adão. A morte deste último, por seu turno, sucede seu pecado. Portanto, nós temos uma série de fatos que se mantém ou caem conjuntamente; isto é, o significado do último dos fatos depende da realidade e significado dos seus precedentes. Nenhum deles possuiria significado caso o primeiro fato, o pecado do homem, não fosse efetivamente um fato.

Mas como deveríamos conhecer tais fatos e as relações entre eles caso não tivéssemos uma Bíblia? Na Escritura, nós temos a interpretação infalível de Deus sobre todos os fatos. Não é que a Bíblia nos diz tudo sobre todos os fatos; antes, ela nos diz que todos os fatos neste universo estão sob o controle de Deus. Uma parte considerável daquilo que a Bíblia trata diz respeito aos fatos por meio dos quais a redenção é efetuada. A obra da redenção forma um todo unificado. Por exemplo, as Escrituras associam a ressurreição de Cristo com Sua morte pelos pecados do homem. Ela também relaciona a obra do Espírito Santo, isto é, a obra da regeneração do eleito, com a obra de Cristo. O que Cristo realizou por nós como pecadores no Seu ministério terreno e aquilo que Ele faz dentro de nós através do Seu Espírito, agora que Ele ascendeu aos céus, é parte de um mesmo programa de redenção.
Aparentemente, não há necessidade de enfatizar isso para aqueles que aderem à Fé Reformada. É danatureza destes perceberas coisas em sua integralidade e através delas. Todavia, somos constantemente tentados a separar a obra de Cristo em pequenos fragmentos e, assim, perdermos seu significado pleno.


ARMINIANISMO E A RESSURREIÇÃO

Somos tentados a fragmentar a obra de Cristo primeiramente devido ao fato de que, em nossos corações, todos nós temos uma tendência ao Arminianismo. Nessa corrente teológica nós podemos encontrar conforto para nosso desejo egoísta de sermos independentes de Deus no que concerne à aceitação da salvação. Para o arminiano, não há graça irresistível. Note o efeito do Arminianismo na doutrina da ressurreição. Suponhamos que todos os homens em todos os lugares decidam não aceitar a salvação de Cristo tal como efetuada na cruz e por meio da ressurreição. Nas concepções arminianas isso poderia facilmente acontecer. Como resultado, a obra de Cristo teria sido realizada em vão. A ressurreição de Cristo permaneceria na História como um estranho evento ocorrido sem qualquer propósito real no mundo.
Caso seja levado às suas consequências lógicas, o Arminianismo destrói a própria fundação do Cristianismo. Não é apenas pelos assim chamados “cinco pontos do Calvinismo” que as pessoas de confissão reformada divergem daquelas que sustentam o ensinamento arminiano. Em última análise, a diferença se encaminha em direção ao fundamento da fé cristã1. Contudo, felizmente os Arminianos são, em geral, inconsistentes. Eles separam a obra que Cristo realiza dentro de nós da obra que Ele realizou “sem” nós; todavia, eles não separam um fato da narrativa bíblica de outro. Por exemplo, os arminianos não separam a ressurreição de Cristo do fato de que Adão pecou no Éden. Eles também não isolam a Bíblia, tomada em si mesma, dos fatos por ela tratados. Eles também não pensam a respeito da Bíblia a não ser como a infalível Palavra de Deus.

INFABILIDADE E A RESSURREIÇÃO

Consequentemente deve ser dito que, embora os arminianos ortodoxos interpretem de forma errônea o significado da ressurreição, há outros que se equivocam a respeito desse evento de forma ainda mais grave. Aqui temos em mente aqueles que consideram a Bíblia como qualquer coisa menos do que infalivelmente inspirada. Há aqueles que tratam da Bíblia como sendo “essencialmente verdadeira” – com isso querem dizer que ela não é infalivelmente inspirada. Ao defender essa visão inferior da Escritura, eles julgam não ter sacrificado nada de grande importância. Cremos que tal visão é um equívoco. Se o pequeno Hans, passando pela represa, tivesse pensado que o primeiro filete de água2 que vazava por uma brecha não fosse importante, ele poderia não ter conseguido impedir que o oceano invadisse a terra. Aqueles que advogam a “veracidade essencial” da Bíblia ao invés de sua inspiração infalível têm, a princípio, substituído a visão objetiva da Escritura por uma visão subjetiva.
Contudo, alguém pode dizer: “você fugiu do assunto. O que esta questão da infalibilidade da Escritura tem a ver com a ressurreição? Aqueles que sustentam a ‘veracidade essencial’ da Bíblia alguma vez pensaram em negar a ressurreição?” Nós nos alegramos que ainda não o fizeram. Contudo, retrucamos, com quais argumentos eles rebaterão aqueles que negam tal evento? Ou com quais argumentos serão usados contra aqueles que, embora não rejeitem a ressurreição, aceitam-na meramente pela graça de sua opinião a respeito da natureza do Cristianismo?
Há aqueles que rejeitam a ressurreição de pronto. Para eles, milagres não acontecem. Como arrazoaremos com eles caso não sustentemos que a Escritura é infalivelmente inspirada? “Ainda podemos discutir com base na evidência histórica” – alguém pode dizer. Podemos informar aos que negam a ressurreição de Jesus Cristo que eles, de fato, foram em direção a posições extremas ao negar as evidências acerca da ressurreição. Tudo isto é verdade, sem dúvida. Portanto, suponha que você tenha convencido um amigo que antes negava a ressurreição que ele não pode mais manter esse posicionamento. O que você ganhou com isso? “Ele (meu amigo) agora crê na ressurreição” – você responde. Certamente que sim, mas ele crê na ressurreição meramente como um evento isolado. Ele ainda se julga livre para determinar para si mesmo o significado da ressurreição fora da interpretação infalível dada pela Bíblia. Você condicionou seu amigo a pensar que a opinião geral dele, longe da interpretação prévia dada pela Bíblia, pode ser legitimamente tomada como a fundação para a aceitação ou rejeição do fato da ressurreição. Como, então, você poderá objetar uma vez que ele siga seu conselho implícito e determine o significado da ressurreição totalmente à parte da narrativa de Adão e Eva no Paraíso? E se o significado da ressurreição deve ser interpretado pelo homem fora da Bíblia tomada aqui como a Palavra infalível de Deus, o fato, em si mesmo, é incerto. O fato, desprovido do significado dada pela Escritura, é vazio. Estritamente falando, afirmar a ressurreição não é melhor do que negá-la, a menos que tomemos a ressurreição na plenitude de sua significância dada por Deus na Sua Palavra.

A CIÊNCIA E A RESSURREIÇÃO
           
Frequentemente nos é dito que vários cientistas atualmente estão inclinados a acreditar em milagres. A geração anterior de cientistas (dizem) concebia a natureza como se ela estivesse mecanicamente concatenada em todas as suas partes, enquanto a presente geração crê no “princípio da incerteza”3. Portanto, eles podem aceitar milagres tais como a ressurreição.
Essa alegação em relação aos cientistas modernos está de acordo com os fatos? Creio que não. Pelo que sei, não há nada de concreto na afirmação de que os principais cientistas, tais como Einstein, Bavink, Jeans ou Eddington, aceitam a noção de milagres da forma como é apresentada na Bíblia. Os únicos “milagres” que os principais cientistas aceitam, creio eu, são os “estranhos eventos” que ainda não foram explicados. Assim, suponhamos por um momento que Sir James Jeans aceitasse realmente o “fato” da ressurreição de Cristo. Isso provaria algo a respeito de sua atitude em relação ao Cristianismo? Aparentemente não. Ele poderia continuar não crendo que Cristo é o Filho de Deus. Jeans poderia pensar em Cristo como um homem incomum com quem uma coisa muito estranha aconteceu. Desse modo, o tal cientista poderia continuar concebendo a ressurreição como algo que não guarda relação alguma com a obra redentora de Cristo.
Dessa forma, pelo visto, a menos que tomemos a Bíblia como a Palavra de Deus infalivelmente inspirada, não temos argumentos válidos contra aqueles que negam abertamente a ressurreição ou contra aqueles que isolam um fato da Bíblia dos demais fatos nela contidos. Talvez possamos apreciar mais prazerosamente esses pontos se pensarmos na situação política da Alemanha. Neste país, os homens vivem pela graça de Hitler. Se uma pessoa não se enquadra no programa de Hitler, tal pessoa é removida4. Ninguém sabe quando ocorrerá a próxima “limpeza” nem quando haverá mais vítimas dela. Um grande general pode pensar que está livre da ira do Führer. Mas ainda assim ele pode cair, caso, na mente do Führer, sua queda promova o “bem-estar” do Estado.
Modernistas5 sinceros lidam com os fatos apresentados na Escritura como o Führer lida com o povo alemão. É desse modo que Barth e Brunner lidam com os fatos da Bíblia. Eles não possuem escrúpulos em delegar para a categoria de lenda aquilo que eles julgam não ser compatível com o princípio do Cristianismo. Os modernistas diferem entre si na questão de quais “fatos” serão excluídos. Brunner sente que o nascimento virginal de Cristo deveria ser descartado; Barth, por sua vez, crê que deve ser mantido. Mas para nenhum dos dois trata-se de uma questão de evidência bíblica. Para ambos trata-se, em última análise, se um fato se enquadra na sua concepção de Cristianismo. Tanto um quanto o outro se encontram em um terreno subjetivo com relação à Escritura. Aceitam e rejeitam o que lhes convém.
Não é de se admirar, portanto, que tanto Barth quanto Brunner desassociam a ressurreição de Cristo dos fatos de Adão e Eva e a Queda destes no pecado. Na verdade, eles introduzem uma espécie de ligação entre o que eles chamam de “Queda do homem” e a ressurreição de Cristo. Contudo, para eles a Queda não é um fato da História comum. Para eles, ela é um fato ocorrido no âmbito da “supra-História”6. Mesmo que pudessem afirmar sua crença na ressurreição de Cristo como um fato da História comum – o que é bastante duvidoso ­–, eles romperam o elo que há entre a ressurreição e os fatos primordiais em relação aos quais o ressurgir dentre os mortos possui seu significado.
Estruturando a situação num todo, aparentemente há muito trabalho a ser feito:
Devemos orar sem cessar para que não sejamos farisaicos nem cheios de justiça própria, crendo termos alcançado o ápice em nossa apreensão da doutrina da ressurreição.
Devemos tentar persuadir nossos amigos arminianos fundamentalistas5 a deixarem de fazer injustiça à ressurreição de Cristo.
Devemos pleitear com aqueles que sustentam a “veracidade essencial” da Bíblia ao invés da doutrina de sua inspiração infalível – pessoas que ainda se intitulam como Reformados – a não abrirem espaço para heresias piores que o Arminianismo.
Não devemos enganar a nós mesmos pensando que a ciência atual – embora pudesse reivindicar estar pronta para aceitar um milagre tal como a ressurreição –se encontra fundamentalmente mais disposta ao Cristianismo do que antes do átomo possuir “livre-arbítrio”7.
Devemos atentar para o fato de que o Barthianismo, não menos do que o Modernismo, fere o coração da mensagem da ressurreição.

Por Cornelius Van Til.
Site: materiasdeteologia.com

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