IGREJA E DENOMINAÇÃO PORQUE TANTA DIFERENÇA

sexta-feira, 13 de maio de 2016

PENTATEUCO

ALUNO DO CRISTO, AMANTE DA VIDA, AMIGO DO HUMANO, ADMIRADOR DA CRIAÇÃO, AUXILIAR DA SOCIDADE.

Teologia do Livro de Gênesis

Teologia do Livro de Gênesis
Por Carlos Osvaldo 
Deus é poderoso
O poder e a majestade de Deus manifestam-se primeiramente em Seu trabalho de criar, ordenar o universo e torná-lo habitável para o homem (caps. 1 e 2). Seu poder também se evidencia nas forças cataclísmicas que Ele reúne e desencadeia para julgar a humanidade pecadora (caps. 6–8), na maneira simples, mas engenhosa, pela qual Ele dispersa a geração pós-diluviana devido à desobediência à ordem divina para que se espalhassem e enchessem a terra (cap. 11).

O poder de Deus é mais sutilmente demonstrado na capacitação a Abraão e Sara para que, mediante a fé, gerassem a semente prometida depois de ambos haver passado o estágio reprodutivo (caps. 18, 21).

Em contraste com isso, vê-se o poder devastador da ira de Deus no juízo contra Sodoma e Gomorra (cap. 19). As palavras de José para seus irmãos em Gênesis 50.19-21 demonstram o ponto de vista mosaico sobre o poder de Deus à luz da história da nação. O que o homem pecador tenciona para o mal, Yahweh é mais do que capaz de suplantar para seus propósitos de bênção e bem-estar para o povo de sua aliança.

Deus é justo
A justiça de Yahweh reflete-se não tanto em declarações sobre seu caráter quanto nos meios simples e diretos pelos quais Ele julga a falta de conformidade do homem com o padrão de conduta prescrito pelo Criador. Tal é o caso com Seu padrão de avaliar o relacionamento do homem com Ele no jardim (2.16), no julgamento imediato contra a rebelião do homem (3.8-19), em seu trato severo (mas paciente) com o crime de Caim e as justificativas pessoais apresentadas por este (4.1-16), no juízo do Dilúvio contra um mundo cuja inclinação e ações estavam em flagrante violação de Seu caráter (6.1-7), na destruição de Sodoma e Gomorra por sua depravação e seu estilo de vida egoísta (19.1-29), assim como em juízos individuais contra homens como Er e Onã (38.6-10).

Deus é gracioso
A graça de Deus lança uma luz brilhante sobre algumas das páginas mais sombrias da história humana. Quando Sua bondade original foi desprezada no jardim do Éden em troca da independência que as criaturas queriam Dele, foi Deus quem tomou a iniciativa de buscar o homem (3.8, 9), de prometer a vitória definitiva sobre a serpente pela semente da mulher (3.15) e de remediar a nudez e a vergonha do primeiro casal (3.21).

Quando a corrupção engolfou a humanidade, Noé [..] achou graça aos olhos do Senhor (6.8), e quando as águas do Dilúvio ameaçavam destruir os sobreviventes, Deus lembrou-se de Noé (8.1).

A graça intensifica-se quando o pacto de Yahweh com a humanidade se focaliza em Abraão e sua linhagem. Ló é preservado pela graça (19.1-31), Isaque é poupado pela graça (cap. 22), Jacó é escolhido por graça (25.19-23; cf. Rm 9.11, 12), assim como toda a família patriarcal é libertada da corrupção e miscigenação em Canaã pela provisão graciosa que Yahweh lhes faz de José como vice regente do Egito (caps. 37-50).

Deus é singular
Há muito que se reconhece em Gênesis uma forte veia polêmica. Israel, depois de 430 anos no Egito, com seu politeísmo grosseiro, e a caminho para Canaã, com sua cosmogonia perversa e religião imoral, precisava entender seu Deus corretamente para não cair presa do animismo e da idolatria.

Assim, Gênesis 1 e 2 apresentam Yahweh como o Deus transcendente que existia antes do universo e dele não dependia para coisa alguma. Ele é senhor absoluto das forças do universo como o sol e a lua, as águas caóticas do oceano primevo, sobre as fontes e cursos de água, e mesmo sobre os grandes animais marinhos. Todos esses elementos tinham alguma conotação mitológica entre os povos do Oriente Médio antigo, particularmente entre os sumérios e os cananeus.

A narrativa do Dilúvio, que tem paralelos nos épicos sumérios de Gilgamés e Atrahasis, estende o tom polêmico ao descrever não um deus caprichoso e vingativo, que destrói a humanidade devido ao desconforto e à falta de sono causados pelo barulho dos homens, mas Yahweh, um Deus cujo caráter santo e propósitos benevolentes para com o homem eram menosprezados e violados pela conduta pecaminosa da humanidade. Além disso, revela um Deus cuja sabedoria permite ao homem escapar ao juízo por meio de uma embarcação realmente capaz de suportar as intempéries do Dilúvio, em contraste com outras versões antigas do evento, que descrevem embarcações totalmente incapazes de navegar e preservar a vida.5

A singularidade de Yahweh aparece em cores ainda mais brilhantes no fato de que Ele é um Deus que, apesar de transcendente e todo-poderoso, busca um relacionamento com Suas criaturas e a elas Se revela. Ele estabelece alianças (cf. 9.8-17; 15.9-21; 17.1-27) e garante seu cumprimento ao prover e proteger milagrosamente a semente que havia prometido (18.13-15; 22.15-18; 25.21).

A administração dos propósitos de Deus
O plano de Deus na história inclui Seu decreto de permitir o mal, Sua promessa e/ou ação de julgar o mal, o livramento do mal por meio de uma semente escolhida e o decreto de abençoar os eleitos a quem libertou. O livro de Gênesis é a sementeira de todas essas ideias nas Escrituras, e elas encontram expressão genuína nesse livro em que as grandes divisões da humanidade são estabelecidas de acordo com seu relacionamento para com o Deus que Se auto revela.

O decreto de permitir o mal
É forçoso admitir que esse decreto é uma inferência das narrativas de Gênesis. No entanto, é preciso admitir que embora Deus jamais aceite responsabilidade pela prática do mal, Ele implicitamente afirma ser o autor da possibilidade do pecado pelo simples fato de ter oferecido ao homem uma condição de obediência (2.8, 9, 15-17) pela qual a santidade de que o homem era dotado como criatura pudesse ser exercida e desenvolvida. A presença de um animal que se rebela contra sua posição na Criação e permite tornar-se um agente de uma vontade oposta à de Deus é indicação de que o mal espreitava à porta da perfeita criação divina, mas não fora de Seu conhecimento ou autoridade (cap. 3).

Assim, um conflito se estabelece, o qual envolverá perenemente a semente da mulher e a semente da serpente. Caim e Abel e, depois, Caim e Sete são parte deste conflito, que se alarga e aprofunda a ponto de incluir toda a humanidade em Gênesis 6. Depois do Dilúvio, o conflito irrompe uma vez mais na linhagem da semente, originando a maldição sobre os cananeus.

Em última análise, este é um conflito entre a vontade rebelde das criaturas e a vontade soberana do Criador, conforme evidenciado na torre de Babel, em que o orgulho humano procura suplantar as intenções divinas para a humanidade na terra.

O fator de desapontamento, que Moisés sem dúvida queria que seus leitores percebessem para levá-los a depender de Yahweh, demonstra-se na maneira pela qual o mal se insinua na linhagem escolhida, primeiro com o incidente de Agar, depois com as trapaças de Jacó e a alienação de Esaú, e finalmente com os vários incidentes de perversão moral, de desonestidade e de ódio dentro do clã de Jacó. Por meio de todas essas circunstâncias, Yahweh apontava para Si mesmo como a única esperança de vitória sobre o mal, pois os patriarcas, na tarefa de dominar o mal, haviam sido tão falhos quanto Adão, Caim e Noé (cf. Gn 4.7).

A promessa/ação de julgar o pecado
Esta linha do plano mestre de Deus encontra seu início no chamado protoevangelho de Gênesis 3.15. Exegeticamente falando, todavia, pode-se argumentar que a própria criação, conforme descrita em Gênesis 1, é um ato de juízo e redenção.

O triunfo prometido da semente da mulher é o tema central, cujo cumprimento é sempre aguardado no desenvolvimento do livro e, no entanto, jamais se realiza, mesmo quando as possibilidades de escolha da semente se limitam a uma das famílias no clã de Jacó.

O juízo de Deus contra o pecado aparece em todo o livro, desde as maldições pronunciadas no jardim do Éden até à disciplina criativa imposta por José a seus irmãos trapaceiros. Tal juízo, todavia, é sempre temperado com a misericórdia restauradora de Yahweh, por meio da qual Suas criaturas caídas encontram graça e esperança.

Libertação do juízo para os/pelos eleitos
Vários incidentes em Gênesis ilustram esta parte do programa divino na História. O nascimento de Sete (4.25) em substituição a Abel aparece como o primeiro exemplo, resultando na preservação do verdadeiro culto a Deus no contexto de uma civilização pagã desenvolvida pelos descendentes de Caim (4.16-24).

O evento seguinte é a chamada de Noé do meio de uma geração incuravelmente corrupta, para que fosse o agente da preservação da raça humana do juízo universal do Dilúvio (6.8). Quando a população da terra pós-diluviana se recusa a obedecer aos mandamentos de Deus e é julgada com a divisão das línguas, a chamada de Abraão (11.27–12.3) oferece uma nova fase no plano redentor de Yahweh, que é desenvolvido por meio de Isaque e Jacó, cuja descendência é salva da miscigenação corruptora com os cananeus pagãos por meio do agente final de libertação em Gênesis, José (a quem o próprio Faraó reconhece como um homem capacitado por Deus [41.38]).

Uma vez que o livro termina com o registro da morte de José e de seu sepultamento no Egito, Moisés tencionava que seus leitores percebessem que a saga da Semente da mulher ainda não acabara e que a tarefa de libertar o mundo do mal seria passada a outros instrumentos, até que a verdadeira Semente surgisse na História.

O decreto de abençoar os eleitos
Gênesis começa com uma progressão do caos (Gn 1.2) à bênção, à medida que toda a criação divina é pronunciada boa, e o homem, como governante mediatório de Deus, é abençoado com vitalidade e fertilidade com as quais deve encher a terra e desfrutar Deus e Sua criação (1.28-31).

A partir da Queda, bênção e maldição coexistem, nunca pacificamente, e o mal progride a ponto de quase eliminar a possibilidade de bênção. A essa altura, Yahweh intervém graciosamente e seleciona Noé como o canal pelo qual a bênção divina fluirá para uma humanidade renovada (apesar de ainda corrupta).

Gradativamente, o decreto de abençoar vai adquirindo forma mais definida. Sem é declarado herdeiro de um relacionamento especial com Yahweh (9.26), e sua linhagem é escolhida para receber e mediar a bênção. Essa linhagem passa por Éber a Terá, e deste a Abraão (11.20-26). A essa altura, chega-se a um ponto culminante, e uma promessa específica de bênção é anunciada (12.1-3); essa promessa é depois ampliada como uma aliança de concessão real (15.9-21) e uma aliança de suserania e vassalagem (17.1-27), que prendem a bênção de Yahweh à semente de Abraão, primeiro como recipiente, e depois como canal (cf. 12.3).

Argumento básico
Devido à natureza do livro de Gênesis, em que uma narrativa altamente estruturada é parte integrante da mensagem do livro, esta seção será breve, deixando a parte mais substancial do desenvolvimento para o próprio esboço sintético.

Gênesis é verdadeiramente um livro de origens. Moisés tinha como objetivo oferecer aos israelitas não apenas um conhecimento de seu passado nacional, mas uma percepção de como esse passado se conectava à história primeva da humanidade e até mesmo à origem do universo. O propósito do livro é promover confiança em Yahweh, o Deus da aliança, demonstrando como a nação devia ao Seu fiel amor sua existência e preservação ao longo dos séculos como o veículo pelo qual o conflito básico, iniciado no jardim do Éden, finalmente terminaria, e a humanidade seria abençoada.

O elemento chave no desenvolvimento de Gênesis é a expressão תּוֹלְדוֹת (hebraico para “gerações” ou “relato”), em torno da qual as narrativas e seus temas teológicos são estruturados.

O registro da história primeva da humanidade indica como a Criação caiu de uma posição de bênção e acabou sob maldição e juízo divinos, estando em contínua necessidade de redenção do pecado.

A criação do cosmos a partir do caos primevo revela Yahweh como o soberano Deus Criador, cujos propósitos benevolentes para com o homem incluem comunhão com Ele e governo sob sua autoridade (1.1 − 2.3).

Quando o homem rejeitou sua posição de criatura moralmente dependente sob a autoridade de Deus, sofreu alienação do Criador e trouxe a maldição divina sobre toda a Criação (2.4 − 3.24).

A história da civilização reflete uma crescente degeneração da conduta humana no conflito entre as duas sementes. Tal degeneração acabou por provocar um juízo divino de dimensões planetárias, no qual apenas a graça de Deus preservou um remanescente (4.1 − 9.17).

O relato dos descendentes de Noé revela como a humanidade uma vez mais abandonou uma posição de bênção pactual sob a autoridade de Deus e colocou-se em uma condição de degradação, rebeldia e maldição (9.18 − 11.26).

O registro da história patriarcal de Israel indica como Yahweh selecionou uma linhagem dentre a humanidade e comprometeu-Se com ela em aliança com o propósito de trazer a lume, por meio dessa linhagem, a redenção do pecado que prometera no jardim do Éden.

A narrativa dos descendentes de Terá descreve como o estabelecimento da Semente prometida por Deus foi marcado por um conflito com o mal, no qual Deus finalmente triunfou à medida que Abraão aprendeu a confiar no Deus das promessas (11.27 − 25.11).

A genealogia de Ismael apresenta o desenvolvimento da promessa divina de que Abraão teria uma descendência inumerável (25.12-18).

O relato dos descendentes de Isaque reflete o crescimento do mal dentro da família escolhida à medida que o engano toma o lugar da fé como sua característica principal (25.19 − 35.29).

A seguir, o relato dos descendentes de Esaú indica como ele foi abençoado enquanto ainda estava em Canaã, e como seu clã cumpriu a predição de Isaque ao conquistar a terra de Seir (36.1-43).

O relato dos descendentes de Jacó indica como a graça de Yahweh preservou a família pactual da corrupção externa e da dissensão interna por intermédio de José e de sua peregrinação para o Egito (37.1 − 50.26).

Assim, o livro registra a história do homem desde o seu glorioso princípio no Éden até a narrativa bem pouco elogiosa da família escolhida, que deve enfrentar o conflito com o mal, mas que com mais frequência é derrotada pelo mal do que o derrota. Moisés incorporou ao seu livro tanto uma sensação de frustração quanto um sentimento de esperança de que surja algo ou alguém capaz de enfrentar adequadamente e, por fim, vencer o mal, sendo, desse modo, capaz de cumprir as promessas da aliança. Ele ofereceu também o contexto da necessidade de um meio de regular a vida sob a promessa, um tema que será retomado em Êxodo e levítico.

Teologia do Livro de Êxodo


A revelação de Deus no livro de Êxodo desenvolve a partir de uma divindade distante de um povo oprimido no Egito para um em relação íntima com o povo de Israel em seu caminho para a terra prometida. O resultado dessa teologia é valiosíssima, impactando os conceitos e ideias teológicas do resto do Velho Testamento .

Talvez a melhor maneira de abordar a teologia do livro inicia-se com o seu desenvolvimento literário, pois a revelação de Deus se desdobra em diferentes formas como os avanços livro. Ela começa com Deus libertando os israelitas da opressão no Egito (cap. 1-19). Livramento leva à responsabilidade por parte do povo de Deus (cap. 20-40). Geograficamente, a primeira parte se passa no Egito, enquanto a segunda parte começa e termina no Monte Sinai, no deserto. Os temas incluem a libertação (capítulos 1-19), a Aliança (cap. 20-24, 32-34) e a presença (capítulos 25-31, 35-40) .


1.    Desenvolvimento literário da Teologia.

O livro começa por traçar o crescimento da família de Jacó no Egito. Como nação, Israel sofre a opressão do Faraó (1:8-10). Apesar das terríveis condições, a nação continua a crescer (1:12), um indício de que Deus está abençoando-os. São tomadas novas medidas para impedir a sua explosão populacional, mas as parteiras se tornam instrumentos de salvação, ao invés de morte, porque "temia a Deus" (1:17). O texto afirma que Deus as abençoa por suas ações em preservar a vida (1:20-21).

A partir de 2:10, o narrador segue a história de uma criança. Ele é chamado Moisés, pois a filha de Faraó "chamou-o para fora da água." Seu nome também pode significar "libertador", adequado ao seu papel como um agente humano para resolver a repressão pelo Faraó. Seu zelo em aliviar a opressão leva à infelicidade e desânimo pessoal (2:11-15), mas estabelece a iniciativa divina levando à completa libertação. O capítulo 2 termina com os gritos de Israel a Deus e a mensagem de que Deus ouve-os (vv. 23-25) .

A mudança dramática acontece quando Deus aparece a Moisés. A revelação da vontade e do plano de Deus gira em torno da conversa com Moisés. Primeiro, Deus aparece em uma sarça ardente (3:2), produzindo um espaço santificado (3:5). Então, Deus fala diretamente com Moisés. Deus revela que ele é a mesma divindade que os patriarcas conheciam (3:6), e está preocupado com a libertação de Israel (3:7-9) , e quer usar Moisés na tarefa (3:10).

No processo da conversa, Deus também revela um nome pessoal, Yahweh (3:15). Com base na frase enigmática em 3:14, "Eu sou quem eu sou", esse nome revela que Deus existe como uma divindade que está ativa e vai trabalhar em favor de Seu povo. A mera existência não está na mente, mas na vontade de trabalhar para a libertação israelita. O nome age como uma palavra de garantia a Moisés e aos israelitas. A confirmação adicional da capacidade desta divindade fica evidente nos sinais dados a Moisés para responder a suas objeções ao chamado de Deus (4:1-9) .

Mais esclarecimentos sobre o nome "Yahweh" ocorre no discurso tranquilizante feito para Moisés de Deus em 6:2-9. Após as tentativas iniciais de Moisés no livramento de Faraó falharem, o Senhor coloca a cena em perspectiva teológica. O parágrafo gira em torno da fórmula da auto identificação, "Eu sou o Senhor " (Êxodo 6:2 Êxodo 6:6 Êxodo 6:8). No passado, os patriarcas conheciam a Deus como Deus Todo-Poderoso. Eles não entendiam a capacidade total do nome "Javé". Essa limitação vai agora mudar. A continuidade com o passado descansa no pacto feito com seus pais (6:4-5), mas a revelação completa do nome vai envolver a libertação da escravidão do Egito, a redenção pelos próprios atos poderosos de Deus, a eleição de seu povo, o conhecimento relacional do Senhor como seu Deus, e a conclusão das promessas envolvendo a herança de uma terra (6:6-8). Embora as pessoas não fiquem impressionadas com esse relato, o livro registra o cumprimento do discurso e, portanto, a revelação da plena capacidade desta divindade, Yahweh .

As dez pragas mostram o poder de Yahweh. Natureza se curva sob a vontade deste Deus. Cada praga torna-se mais perigosa. Elas vêm em ondas de três, a terceira confirmava as duas anteriores. Embora os mágicos do Faraó imitassem algumas das pragas, os poderes humanos em breve desapareceriam.

O conflito com Faraó, e, provavelmente, com tudo o que ele representa, é enfatizada pela narrativa. Quase todos os relatos das pragas observam a atitude obstinada do Faraó, uma atitude que exteriormente pode ceder diante do perigo do momento, mas desparece quando a praga diminui. Deus usa essa dureza para seus propósitos (ver Êxodo 07:13 Êxodo 07:22, Êxodo 08:15 Êxodo 08:19 Êxodo 08:32, Êxodo 09:07 Êxodo 09:12 Êxodo 09:35, Êxodo 10:20 Êxodo 10:27). Quais são os efeitos? A narrativa relata um propósito com as palavras: "Os egípcios saberão que eu sou o Senhor" (07:05, 08:22, Êxodo 09:14 Êxodo 09:16; 10:1-2). Os atos de Deus apontam para uma realidade que é capaz de trabalhar de forma poderosa. Claro, Israel também veria está divindade em operação. A segunda finalidade surge no contraste direto dos deuses e o Senhor do Egito. Cada praga trata de uma divindade do panteão do Egito (cerca de 500-2000 deuses), incluindo a décima praga contra o filho primogênito (12:12). Yahweh é o Deus dos deuses .

A libertação da opressão resultada da disputa. Israel deixa o Egito. Uma coluna de nuvem de dia e uma coluna de fogo à noite representam a presença de Yahweh ao levá-los. Os egípcios seguem e tentam destruí-los junto ao Mar dos Sargaços (cap. 14). Em vez disso, a libertação vem do Senhor, através da divisão do mar. O exército egípcio se afoga quando eles tentam seguir. Suas palavras antes da destruição explicam a intenção dos acontecimentos: "Porque o Senhor está lutando por eles contra o Egito" (14:25). Yahweh "salva" Israel; Ele "é um guerreiro" que lutar pelo povo de Israel (14:30, 15:3). Como resultado, as pessoas acreditam em Yahweh e em seu Servo Moisés (14:31). Capítulo 15 relata em canção a vitória de Yahweh.

Deus continua a fornecer suas necessidades ao passo que eles marcham em direção ao Monte Sinai. Quando eles sofrem com a água amarga em Mara e sem água em Refidim, Deus oferece sua provisão (Êxodo 15:22-27; 17:1-7). Quanto ao ataque dos amalequitas, o Senhor mais uma vez luta para pelos seus servos (17:8-13). Por fim, eles chegam ao Monte Sinai e experimentam a presença do Senhor em uma teofania de raios e tempestade (cap. 19). As pessoas "temem" Deus enquanto se preparam para encontrá-lo através do papel de intermediário desempenhado por Moisés. Esta deidade é o seu Deus, e eles vão agora ao seu encontro.

Como povo de Deus, Israel deve ser responsável pelas estipulações da aliança dada na montanha. Israel concorda em obedecer (19:8). Após os mandamentos, os preceitos do pacto são apresentados e a aliança é estabelecida com o sangue aspergido sobre o povo (24:8) .

O relacionamento com o Senhor exige obediência. Nenhuma outra razão é dada exceto a que o Senhor exige. Um levantamento das Dez Palavras ou Mandamentos (20:1-17 e o "Livro da Aliança" (20:22-23:33) indica que as instruções de Deus cobrem dimensões verticais e horizontais, envolvendo atitudes e ações corretas em relação Deus e para com a humanidade. Cada área da vida deve ceder à relação de aliança com o Senhor, de modo familiar, são apresentados os direitos sociais, individual e corporativa.

Enquanto Moisés e Josué permanecem na montanha para receber as tábuas de palavras, as pessoas agem em rebelião, fazendo um bezerro de ouro para adoração e liderança (32:1). O pacto é quebrado dentro de 40 dias depois que ele é iniciado. Depois de tudo que o Senhor tem feito por Israel, eles se afastam. Como resultado de sua idolatria, Deus ameaça abandonar Israel (32:7-10). Moisés intercede em favor de seu povo (32:11-14, 33:12-16). Ele percebe que Israel não é nada sem o Senhor. De alguma forma inexplicável, provavelmente por causa da aliança, o caráter de Deus agora está nivelado com o destino de Israel, o povo de Deus (33:13). Deus age em graciosidade e não destrói Israel (33:19, 34:6-7). A aliança é renovada (34:10-28) .

Nesta ocasião, Moisés recebe uma revelação especial do caráter de Javé. Ele pede um olhar para a glória de Deus (33:18). A audácia do pedido é ignorada, e o Senhor promete revelar toda a sua "bondade" (33:19). Se a "glória" e "bondade" são a mesma coisa não é explicado. Mas quando o Senhor passa por Moisés sobre a montanha, seis palavras ou frases são proclamadas que fornecem uma das mais completas descrições do caráter do Senhor, não importa se em relação à glória ou bondade. Javé é compassivo, misericordioso, longânimo, e abundante em benignidade, e abundante em fidelidade, e perdoa (34:6-7) .

Tecidas entre os capítulos sobre a aliança e sua violação, as instruções do Senhor sobre a construção de um símbolo da presença do Senhor no meio de Israel, o tabernáculo, são registradas. As orientações precisas para os materiais do santuário e de vestuário do sacerdote são dadas. Estas instruções servem como modelo para as ações de capítulos 35-40 quando é erguido .

O tabernáculo cumpre a promessa do Senhor de habitar no meio de Israel (cf. 6:8). Ele fornece um local onde a adoração e a instrução têm lugar. No Monte Sinai, a glória do Senhor veio como fumaça envolvia na montanha (24:16). Mas a montanha não era o lar permanente para Israel, o santuário se moveria com Israel. O Senhor quer sempre estar no meio de seu povo por esta habitação.

Quando o tabernáculo é dedicado, a glória do Senhor se instala sobre ele (40:34). O livro termina com a presença do Senhor que conduz ao santuário. O Deus que se encontrou Moisés na sarça ardente (cap. 3) e as pessoas na montanha ( cap. 19-20) reside agora no meio de Israel.


2 Reflexões Teológicas. 
O livro do Êxodo é rico em teologia. Sua principal importância reside na libertação de Israel de Deus da escravidão do Egito. Confissões de fé e adoração corporativas no Antigo Testamento a partir deste ponto derivam dos eventos do êxodo. Quase toda a parte do livro nos traz recompensas para a reflexão teológica. Alguns aspectos teológicos se destacam e devem ser observados.

"Nome" Teologia: Yahweh . Em Israel, um nome representava o personagem. O nome pessoal do Deus de Israel é revelado neste livro. Moisés supõe que as pessoas estão indo perguntar o nome de Deus. O que ele está a dizer a eles? Sua pergunta pressupõe mais do que um nome, o nome que responde o que está divindade podia fazer por Israel. Deus responde: "Eu sou quem eu sou" (3:14), uma frase que continua a pedir interpretação. No contexto, o nome indica que este deidade atuará em nome de Israel.

Como é que este ato Deus? O discurso de reafirmação do Senhor em Êxodo 6 afirma que Ele apresenta continuidade com suas ações nos dias dos patriarcas e vai revelar-Se mais plenamente como um Deus que liberta da opressão, redime, elege, estabelece uma relação, e cumpre suas promessas (6:6-8).

O Senhor confirma suas declarações por ação, evidenciadas pelos acontecimentos do livro. Faraó, os egípcios, Moisés e o povo de Israel testemunham a qualidade do Nome. Por esta razão, o nome não deve ser utilizado de uma forma vazia, de acordo com a terceira ordem (20:7). Quando Deus passa por Moisés sobre a montanha, o anúncio começa com uma repetição dupla, "Senhor, Senhor" (34:6), e é seguido por termos teológicos que explicam o caráter de Deus de glória ou bondade, toda a parte do conteúdo que está divindade é. Yahweh é o nome do Deus de Israel, com pleno sentido para eles.

"Poder de Deus" na Teologia . O Livro de Êxodo exala o poder do Senhor. Nas dez pragas, o Senhor coloca o seu poder contra o poder do Faraó. Cada praga mostra o controle deste mundo de Deus. Moisés participa como o mensageiro porque ele foi testemunha de alguns milagres para afirmar o chamado de Deus ( 4:1-9 ) .

Dividir o Mar Vermelho se destaca como um grande exemplo do poder de Deus (cap. 14). O evento não só economiza Israel, mas também destrói seus inimigos, o exército egípcio. O capítulo 15 celebra este poder de Deus para trazer a vitória (ver 15:6; Cf. "braço direito" em Isaías). A salvação vem dos atos poderosos de Deus, melhor visto na despedida do mar.

Além disso, a provisão de Deus para Israel mostra Seu poder. Água, maná, ajudam em combate, e orientação exibe Suas habilidades para atender as necessidades de Israel.

Teologia da Santidade. Êxodo 15:11 pergunta: "Quem é como tu, glorificado em santidade?" Na sarça ardente, Moisés é avisado para tirar as sandálias porque a área é "terra santa" (3:5). Qualidade moral exemplifica está divindade. Os mandamentos assumem a santidade de Deus. À luz de quem é Deus, Israel deve ser "uma nação santa" (19:6), obedecendo os mandamentos e preceitos (ver Levítico e a palavra "santo"). O Livro da Aliança (cap. 21-23) descreve as expectativas para a medida da santidade de Israel: tudo na vida deve ser vivida em sua luz.

Fidelidade na Teologia. Observamos muitas frases em Êxodo da fidelidade de Deus em termos de "lembrança". Deus lembrou-se do Seu pacto com os "pais", Abraão, Isaque e Jacó (2:24; 3:6; 6:3). Lembrar suas promessas significa que ele age à luz de sua lembrança. Neste caso, ele envia um libertador (Moisés), que vai levar Israel para a terra prometida aos patriarcas (6:8 , 15:17) .

As promessas de Deus a Moisés e ao povo de Israel também se tornam realidade. O livro registra sua fidelidade. Em troca, Israel deve ser fiel ao Senhor. O primeiro mandamento afirma que eles "não devem ter outros deuses diante" desta divindade (20:2). Não há ídolos ou imagens que devam substituir está divindade (20:4). Afinal, não há outros deuses que possam ficar com esta divindade (15:11). A vitória sobre os deuses do Egito confirmam este ponto de vista .

O fracasso de Israel em ser fiel ao Senhor leva ao julgamento de Deus (Êxodo 32:10 Êxodo 32:28 Êxodo 32:35). Israel sabe que o Senhor deve ser temido, pois eles testemunharam o Seu trabalho no Egito e vivenciaram a sua presença na montanha (20:19-20). No entanto, sua memória parece breve. A ira de Deus pode ser evitada por intercessão (8:8; 32:30-34) e o arrependimento tem a possibilidade de aversão da ira de Deus, embora o Faraó não o faça de uma forma significativa. A não observância pode levar a uma oferta pelo pecado, um ato que satisfaz a Deus (29:10-14). A expiação pelo sangue purifica os sacerdotes (29:35-37) e o povo (24:6-8), satisfazendo a ira de Deus .

Deus considera Israel responsável por obedecer suas instruções. Salmos 78 e 106 contam o que Deus fez no livro do Êxodo e como Israel conhecia os mandamentos, mas não conseguiu obedecer. O relacionamento exige que ambas as partes ajam fielmente.

Teologia da Salvação. Deus age para salvar Israel de sua situação. A salvação tem um lado tangível, ou seja, a libertação do Egito. Deus inicia a sua salvação através da observação dos gemidos de Israel (3:7). Ele, então, toma medidas para concretizar a mudança, primeiro pela escolha de um libertador (cap. 3) e , em seguida, trazendo os filhos de Israel do Egito (15:13).

A redenção leva a uma relação permanente com a divindade que trabalhava por Israel. Embora a redenção possa ser limitada às condições políticas e econômicas, como os teólogos da libertação argumentam, os relatos em Êxodo incluem e vai além dessas áreas. A relação com o seu benfeitor vai impactar toda a sua existência. "Aliança", a palavra bíblica que indica a relação, exige total comprometimento de ambas as partes, embora Deus já trabalhou e vai provar fiéis no futuro. A lembrança da maneira como Deus tem trabalhado ocorre nos festivais (23:14-17), a Páscoa é o que ensaia os eventos do êxodo (cap. 13). Os festivais dizem a Israel que Deus operou no passado e vai continuar a trabalhar no presente e no futuro.

Israel foi escolhido por Deus (6:7). Eles são o seu povo, e ele é o seu Deus. Ele os trouxe para fora do Egito, salvando-os, e agora pede a obediência às Suas instruções (20:2). Isto estabelece o pacto sobre o fundamento das ações de Deus, ações com base em sua escolha e graça.

Teologia da "Presença". A revelação da presença de Deus desenvolve a partir de ocultação para um local permanente de presença, o tabernáculo. O narrador indica que Deus se esconde no fundo, nos dois primeiros capítulos. No capítulo 3, o Senhor fala a Moisés, revelando a si mesmo e seus planos. Ele até dialoga com Moisés, mostrando que ele fala em formas que os seres humanos entendem .

Como o livro se desenrola, a presença de Deus toma direções tangíveis com instruções específicas a Moisés no Egito e na montanha. Israel testemunha a presença de Deus em meio à tempestade no Monte Sinai. À medida que as pessoas se aproximam da divindade que vem trabalhando em favor deles, eles temem por si e perguntam a Moisés que continue a interceder por eles (20:18-21). É como se eles precisassem de distância de Deus, a presença se aproxima, mas o povo não pode suportá-la. Deus continua a falar através de Moisés, mas Israel é responsável pelas palavras de seu líder.

Para demonstrar mais claramente a presença de Deus, o tabernáculo foi construído. A presença de Deus repousa no meio de Israel no tabernáculo. Ele usa o véu por causa da presença de Deus de uma forma que as pessoas podem olhar para ele. O Senhor se reúne com Moisés ali. As pessoas entendem as implicações por causa do simbolismo específico do santuário no centro do acampamento.

Com o Senhor, em sua essência, Moisés como intermediário, e as pessoas em relação a aliança, Israel pode avançar além do Livro do Êxodo a experimentar a vontade do Senhor. O livro começa a grande aventura de uma nação em relação com a sua divindade, Yahweh.


G. Michael Hagan

Teologia do Livro de Levítico

R. K. Harrison

Em contraste com Gênesis e Êxodo, em que as narrativas produziam farto material dos quais se poderiam derivar traços subjacentes do caráter divino ou de princípios divinos de ação, levítico tem um mínimo de narrativa e um máximo de legislação. Estes, no entanto, oferecem percepções significativas da pessoa e do caráter de Deus em Seu relacionamento com o povo e na provisão que faz para que a comunhão pactual seja preservada.

Deus é santo
O versículo-chave do livro é um mandamento límpido de Yahweh. Sereis santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo (19.2). Santidade significa separação de alguma coisa para um propósito ou uso. No caso de Yahweh, significa sua separação do mal em toda e qualquer de suas formas. O objetivo dessa legislação, como também a razão da narrativa chocante da morte de Abiu e Nadabe, no capítulo 10.

Assim, a comunhão desejada (ou melhor ordenada) por Yahweh com Seu povo dependia da assimilação de seu conceito de santidade pelos israelitas. Esse conceito era radicalmente oposto ao uso do termo קֹדֶשׁ (qōḏeš, “santidade”) pelos cananeus, para quem ser קָדוֹשׁ (qāḏôš, “santo”) significava envolver-se com as formas mais degradantes de imoralidade, como ser prostituto ou prostituta cultual.

Israel, ao buscar os padrões divinos de santidade, teria de deixar para trás a forma de ser חֹל (ḥōl, “comum” ou “profana”), ir além da forma neutra de ser טָהרֹ (ṭāhōr, “limpo”), para chegar à vida de identificação positiva com a pureza, a vida קְדוֹשָׁה (qeḏôs̆â, “santa”). Em muitos casos, a santidade era relacionada ao status cerimonial na comunidade, e o indivíduo e, até mesmo, toda a comunidade poderiam precisar progredir da forma de vida mais baixa, טָמֵא (ṭāmēʾ, “impura”), para cima, em direção ao perdão e aceitação de Yahweh.

Deus é imanente
O propósito de Deus, expresso nas palavras de Êxodo 25.8, era viver entre o Seu povo. As instruções detalhadas concernentes ao lugar de sua manifestação, oferecidas em Êxodo, são seguidas de instruções igualmente detalhadas sobre como preservar o privilégio de sua presença, encontradas em Levítico.

Outras nações do Oriente Médio antigo compartilhavam o conceito de ter a divindade nacional habitando no meio do povo. Israel, todavia, se destacava entre elas por desfrutar a presença de Yahweh por meio de um culto puro – cerimonial e eticamente puro – de modo a refletir o caráter santo de seu Deus.

Outro aspecto merece ser observado, pois além da presença gloriosa manifestada acima da arca da aliança no Santo dos Santos, havia uma presença geral, santificadora, que afetava e impunha exigências sobre a religião de Israel (caps. 21–24), sobre os padrões de comportamento sexual (caps. 18 e 20), e sobre as relações interpessoais (caps. 19 e 25) dos israelitas.

Deus é gracioso
Em Levítico, nove vezes a frase וְנִסְלַח לוֹ = (wenislaḥ lô, “e ser-lhe-á perdoado) apresenta a maravilhosa realidade de que Deus havia providenciado o perdão para algum tipo de deficiência (4.20, 26, 31, 35; 5.10, 13, 16, 18; 6.7). Isso aponta para o fato de que havia uma eficácia espiritual nos sacrifícios que Yahweh graciosamente planejara e revelara a Israel.

Uma vez que seu propósito não era simplesmente libertar Israel do caos e da desordem da escravidão corporal no Egito, mas também do caos e da desordem de uma vida dominada pelo pecado, pela doença e pela morte, o sistema sacrificial transmitido à nação por Moisés englobava cada aspecto da vida e fazia provisão para impurezas morais e cerimoniais por meio do princípio de expiação vicária (i.e., substitutiva). O perdão de Yahweh sempre foi gratuito, mas nunca barato, já que sempre envolveu a entrega de uma vida em lugar de outra, com o benefício sendo apropriado mediante a fé.

O ponto culminante da graça de Yahweh na vida da nação ocorria no chamado (“Dia da Expiação” (יוֹם הַכִּפּוּרִים, o tradicional yôm haḵkip̄pûrîm, cf. 23.27), quando os pecados de todo o ano eram expiados e, figurativamente, “despachados” para o deserto, removidos da vista da congregação. O retorno do sumo sacerdote do Santo dos Santos significava que Yahweh havia graciosamente estendido a sua presença e proteção sobre a nação por mais um ano. 




Teologia do Livro de Números

R. K. Harrison


Deus é imanente
Números enfatiza, de muitas maneiras, a presença constante de Deus entre seu povo e com ele. A nuvem que cobria o tabernáculo demonstrava que Yahweh não era um Deus distante e inacessível, mas que permanecia entre o povo, mesmo em face de suas frequentes falhas. Balaão, vidente pagão e teólogo involuntário, afirmou que o Senhor seu Deus é com ele, no meio dele se ouve a aclamação dum rei (23.21). Igualmente, os cananeus reconhecem o fato (14.14), mas Israel constantemente desprezava essa realidade tão preciosa. Vale também lembrar que essa presença se manifestava em graça (Arca, Dia de Expiação), mas também em ira e disciplina (11.25; 16.19, 42; 20.6).

Deus é poderoso
Enquanto que em Gênesis o poder de Deus é visto em sua força criativa e destrutiva, e em Êxodo é demonstrado por Sua soberana intervenção nos fenômenos da natureza, em Números ele se encontra na provisão sobrenatural para uma população enorme (cf. 11.4-6, 31-35; 20.1-13) e nos meios incomuns pelos quais Yahweh disciplina os pecados de Seu povo. Todos eles estão relacionados a manifestações da ira divina por intermédio de fenômenos raros como a abertura da terra, o florescer da vara de Arão e a cura pelo olhar para uma serpente de bronze.

Deus demonstra ira
Com esta expressão, quer-se dizer que Yahweh se levanta em ira santa contra violações e violadores de seus justos padrões morais e pactuais (e.g., contra Arão e Miriã [12.9], contra a nação incrédula em Cades [14.10-12], contra o violador do Sábado [15.32-35] e contra o próprio Moisés [20.12,13]). Se termos como essencial e secundário aplicam-se a Yahweh, o Deus eterno, podemos dizer que a ira divina é um atributo “secundário”, a manifestação terrena de sua santidade ou verdade ofendidas. Essa ira, embora “tardia” em sua manifestação, é tão segura quanto as misericórdias e as promessas da aliança.

Uma das questões principais levantadas pelo livro de Números gira em torno deste atributo. “Podemos nós, como nação, sobreviver à ira de Yahweh, uma vez que tantos e tão grandes sucumbiram diante dela? ”. Balaão traz a resposta, às vezes crítica, às vezes cômica, mas correta na predição de que a promessa patriarcal ainda era válida e ainda seria cumprida (cf. 23.20 e 24.9).

Deus é misericordioso
A despeito dos repetidos fracassos da geração do Êxodo e das falhas da geração do deserto às portas da Terra Prometida, Yahweh repetidamente manifestou a Sua misericórdia, isto é, Sua aquiescência para com a intercessão feita por Moisés (e Arão) para que Ele poupasse a Israel a porção merecida da justa ira de Deus. Assim acontece no caso de Miriã (12.9-15), com toda a nação em Cades (14.10-20), depois da rebelião de Corá (16.41-50) e no episódio das serpentes, próximo a Edom (21.4-8).

Mesmo a legislação outorgada depois que a aliança mosaica havia recebido sua forma mais completa revela a misericórdia de Yahweh. Com uma taxa de mortalidade de pelo menos quarenta adultos por dia, a provisão da água purificadora (Nm 19) era crucial para a continuidade da vida civil e religiosa, removendo a contaminação do pecado representado pela morte.

Deus é fiel
Talvez o mais notável atributo divino encontrado no livro de Números é a fidelidade demonstrada por Yahweh para com o Seu povo errante. Ele mantém sua promessa incondicional aos patriarcas, a despeito das sucessivas falhas do povo em se conformar às promessas condicionais de bênção encontradas na aliança sinaítica.

Balaão, o adivinho pagão, é o agente involuntário na revelação do compromisso divino de não apenas abençoar Israel de maneira geral, mas de conceder-lhe todo o espectro das bênçãos prometidas a Abraão.

Dentro do tema da fidelidade de Yahweh, há um elemento de polêmica contra falsos deuses no inclusivo que é formado pela mensagem de Balaque a Balaão (... porque eu sei que será abençoado aquele a quem tu abençoares, e amaldiçoado aquele a quem tu amaldiçoares, 22.6) e pelo terceiro oráculo de Balaão (Benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem, 24.9). O servo de deuses falsos não pode amaldiçoar o povo do Deus verdadeiro, e Ele repete a promessa divina a Abraão (Gn 12.3). Na sua fidelidade, Yahweh sobrepuja o poder de reis e nações para estabelecer Israel segundo a promessa.
Teologia do Livro de Deuteronômio
R. K. Harrison


Eugene Merrill indicou que Deus utilizou, como principal instrumento para Seu auto revelação, Seus atos poderosos, eventos históricos que a comunidade da fé pôde reconhecer como divinos. Ele afirma: “Enquanto que no Antigo Testamento o ato fundamental de Deus é a própria criação, aqui o assunto é menos cósmico; o foco de Deuteronômio não são as preocupações universais de Deus, mas Seus propósitos especiais para Seu povo”.7

Essa concentração no relacionamento suserano-vassalo sem dúvida contribuiu para que Deuteronômio se tornasse um favorito entre o povo de Israel, o livro mais citado, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. O Senhor Jesus citou Deuteronômio para triunfar sobre Satanás (Mt 4.1-11) e para defender sua autoridade messiânica, ao definir qual a parte mais importante da Lei (Mt 22.34-40).

O livro é a fonte de exortações proféticas no Antigo Testamento, o parâmetro pelo qual a sociedade de Israel era medida e, na maioria das vezes, condenada. Acima de tudo, porém, Deuteronômio foi fundamental para a geração que crescera no deserto e precisava pensar corretamente a respeito de Yahweh, para obedecer-Lhe na hora crítica da conquista e desfrutar as bênçãos divinas na Terra Prometida.

Yahweh está próximo
Este conceito é apresentado quando Israel recebe a ordem de obedecer aos decretos de Yahweh (cap. 4). A proximidade de Deus é relacionada tanto à oração quanto à obediência, de modo que Israel pudesse entender que a presença de glória de Yahweh em seu acampamento, ou melhor, agora na terra, tornava-O acessível em graça e misericórdia apenas quando a obediência era o estilo de vida da nação.

A proximidade de Yahweh era entendida por intermédio das teofanias, que “contribuíam para a Sua aura de majestade e poder e, portanto, persuadiam o povo de Sua dignidade e autoridade” 8. Quase sem exceção, essa manifestação se dava por meio de fogo e escuridão (cf. 1.33; 4.11, 2, 33, 36; 9.10, 15; 33.2). O fogo falava de poder e imanência, da possibilidade de Yahweh ser conhecido, ainda que parcialmente. A escuridão lembrava que Ele ainda era um Deus misterioso, que o homem era incapaz de absorver e controlar. Em boa linguagem teológica, Yahweh era o Deus absconditus.

Yahweh é singular
O famoso dito hebreu שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יהוה אֱלֹהֵינוּ יהוה אֶחָד (šema ʿyiśrāʾēl ʾăḏōnāy ʾĕlôhênû ʾăḏōnāy ʾeḥāḏ, “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”), o credo compacto de Israel (6.4), tem sido de há muito objeto de grande debate. Alguns entendem o versículo como uma afirmação da unidade de Deus (que Ele é um), enquanto outros falam de sua unicidade (que Ele é um só). Os hebreus, entretanto, tinham mais em vista a singularidade de Deus (isto é, que Ele não tinha igual); seu Deus era um Deus único, sem igual, sem paralelo, que jamais poderia ser igualado, comparado ou emulado. Esse versículo parece ter sido um antídoto, ou melhor, uma vacina contra o sincretismo que infestava Canaã. Não havia possibilidade de associação entre Yahweh e Baal; Yahweh era singular e nenhuma confusão se deveria fazer entre Ele e os falsos deuses das nações que circundavam Israel.

Sob outro ângulo, Deuteronômio 4.15-19 distingue Yahweh de Sua criação. Em 10.14, Deus é designado como possuidor dos corpos celestes adorados pelos vizinhos pagãos de Israel. Deuteronômio 12.4 proíbe a adaptação, a contextualização, por assim dizer, de Yahweh e Seu culto às práticas corruptas e corruptoras dos cananeus (cf. ainda 12.29-32). O sincretismo na adoração levaria inevitavelmente à confusão com respeito à natureza e caráter de Yahweh, e isto à corrupção moral, que acabaria por trazer a disciplina prevista na aliança.

Yahweh é ciumento
Este atributo divino manifesta-se mais claramente quando se trata de repartir com qualquer outro deus seu lugar peculiar de devoção no coração de Seu povo. O capítulo 4 indica que desde o princípio Yahweh admoestara Israel a não tratar levianamente seu zelo por sua honra e reputação. A idolatria era zombaria contra Yahweh e exigia castigo e correção. Sua muita bondade era equilibrada por um zelo que não admitia competição pela lealdade de seu povo (cf. 4.24; 5.9; 6.15; 13.2-10; 29.20). O ciúme de Yahweh é um subproduto direto de Sua singularidade (4.35; 6.4), e Israel não podia se beneficiar de sua relação peculiar com Yahweh enquanto negava a singularidade do Deus ao Qual alegava estar relacionado em aliança.




Yahweh é amoroso
O amor é um conceito crucial em Deuteronômio, como também é o elemento que mantém a aliança em funcionamento. O amor tem sua origem em Yahweh (4.37) e foi expresso em um ato volitivo pelo qual Yahweh determinou relacionar-se a um povo e, sem qualquer mérito da parte desse povo (cf. 7.7-11; 10.14-22), ativamente concretizar aquilo que serviria para o seu bem último. Isso incluía tanto libertação quanto disciplina (cf. 4.20 e 8.5), tanto promessa quanto preceito (7.11-16).

O amor de Yahweh por Israel é descrito como um relacionamento entre pai e filho (cf. 1.31), bem à maneira em que eram redigidos os tratados entre suseranos e vassalos no antigo Oriente Médio (cf. 2 Rs 16.7). Particularmente importante neste contexto era a palavra hebraica חֶסֶד [ḥeseḏ] (“amor leal”), um termo característico da aliança que significa a fidedignidade pactual de Yahweh, o Deus que graciosamente se comprometeu com o bem de Seus escolhidos (cf. 5.10; 7.9, 12; 33.8).

Este relacionamento exigia uma resposta volitiva que podia, como tal, ser ordenada (6.5; 10.12; 11.1, 13), um amor que se expressava em obediência aos mandamentos de Yahweh (6.1, 17; 7.11; 8.1) e envolvia a pessoa como um todo (6.5) e toda a comunidade (29.17[18]; cf. Hb 12.15). A mesma reação foi exigida pelo Senhor Jesus Cristo. “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15).

Yahweh disciplina seu povo
O livro de Deuteronômio está repleto de referências à disciplina divina. A própria experiência de Moisés, resultado de seu ato de arrogância, é relatada diversas vezes como prova inquestionável de que Israel não escaparia ileso caso se desviasse do caminho pactual que fora apresentado à nação. Bênção (às vezes identificada como vida) e maldição (ou morte) eram alternativas que Yahweh não apenas previu, mas preordenou para Israel, prevendo cativeiro e exílio (caps. 4 e 28), mas também restauração (4.29-31).

É importante observar, mais uma vez, que essa disciplina não é uma fúria caprichosa em operação, mas a consequência de um acordo feito entre as duas partes de uma aliança. Os termos da disciplina estavam relacionados às bênçãos propostas na aliança, as quais eram a posse da terra e uma vida de fertilidade e produtividade ali. A imutabilidade do caráter de Yahweh era a garantia de que ambas, bênção e disciplina, aconteceriam, dependendo da resposta de Israel. Aquela geração, como também cada geração subsequente em Canaã, precisava obedecer aos preceitos da aliança mosaica para desfrutar os benefícios temporais da aliança abraâmica. Caso contrário, seu destino seria a disciplina de Yahweh.

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