IGREJA E DENOMINAÇÃO PORQUE TANTA DIFERENÇA

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

MINHA IGREJA RACHOU E AGORA?

ALUNO DO CRISTO, AMANTE DA VIDA, AMIGO DO HUMANO, ADMIRADOR DA CRIAÇÃO, AUXILIAR DA SOCIDADE.


MINHA IGREJA RACHOU E AGORA?
Processos de divisão em igrejas evangélicas deixam sequelas
No início, o Evangelho espalhou-se graças à presença do próprio Senhor Jesus. Mais tarde, após sua morte e ressurreição, coube aos novos convertidos ao recém-criado cristianismoromper com suas tradições religiosas e sair pregando as boas-novas do Reino. Em pouco tempo, a nova fé cresceu e, como não poderia deixar de ser, surgiram as primeirasdivergências entre seus seguidores. A lei de Moisés perdera a validade ou não? Os mortosvoltariam à vida antes ou depois do retorno do Senhor? A circuncisão continuava obrigatória?Depois, vieram as diferenças teológicas – e mesmo gigantes da fé, como os apóstolos Paulo e Pedro, tiveram lá suas diferenças por causa de interpretações conflitantes acerca do Evangelho. Quando a Igreja ganhou formas institucionais e o clero se fortaleceu, as divisõespassaram a ocorrer, principalmente, por questões internas e administrativas. A falta deconsenso, seja por motivos espirituais ou simples disputa de poder, levou a cristandade agrandes rachas, como o ocorrido em 1054, entre cristãos do Ocidente e do Oriente, ou a Reforma Protestante do século 16.
A verdade é que, ao longo destes dois mil anos e pelos mais diversos motivos – ou desculpas–, igrejas cristãs seguem tendo dificuldades em manter a sua unidade, gerando novas divisõese afetando a vida e o ministério de seus fiéis. Na história recente das igrejas evangélicasbrasileiras, grandes separações aconteceram, tanto nos grupos históricos – como a Igreja Batista, que viu surgir em seu meio um segmento avivado nos anos 1960 –, como nas igrejas pentecostais e neo pentecostais. E as separações acontecem tanto em nível denominacionalcomo dentro das próprias comunidades locais, em geral por mero desentendimento entre seuslíderes e, muitas vezes, gerando igrejas vizinhas – e até rivais – de mesma fé. “A divisão éintrínseca à experiência da Igreja cristã: simplesmente, nunca houve um cristianismo indiviso”, aponta o professor Joanildo Burity, coordenador do mestrado sobre fé e globalização do Departamento de Teologia e Religião da Universidade de Durham, na Inglaterra.
As razões que desencadeiam essas cizânias, na opinião dos especialistas, incluem desde avaidade pessoal dos líderes até insubordinação, dificuldades de se trabalhar em equipe einteresses pessoais nocivos. Há também os motivos espirituais – caso das divergênciasteológicas ou de vocações ministeriais legítimas, que são sufocadas por liderançascentralizadoras. “Dificilmente, a divisão é provocada por uma ovelha, mas quase sempre por um pastor ou líder”, argumenta o pastor Osvaldo Lopes dos Santos, presidente da União dasigrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB). A denominação, introduzida no Brasil noséculo 19 pelo missionário e médico escocês Robert Kalley, enfrentou uma grande cisão em 1967, por causa da adesão de alguns pastores ao avivamento espiritual.
Se, por um lado, as separações em igrejas contribuíram para a acelerada disseminação docristianismo no mundo, devido à multiplicação do número de congregações, por outro geramverdadeiros traumas emocionais e de fé nos membros, geralmente os que mais sofrem com asdivisões. “Toda ruptura, quer seja pessoal ou institucional, sempre causa algum tipo de trauma emocional, psicológico, social, e, no caso da igreja, um espiritual”, continua Osvaldo.“Trata-se de um divórcio eclesiástico, que afeta profundamente a história e a identidade de um povo, removendo as suas bases e criando um grande vazio existencial por um longo tempo.”
Os cismas que acontecem no meio das igrejas evangélicas são uma das inúmeras causas dastransferências de membros entre igrejas. A flutuação é grande – hoje em dia, é comum seencontrar crentes que já foram ligados a diversas congregações. Caso de R.M., carioca de 50anos que, a fim de evitar constrangimentos, pediu à reportagem para não ser identificado. “Converti-me na Assembleia de Deus”, conta. “Mas, três anos depois, o pastor rompeu com oConselho e abriu sua própria igreja. Fui com ele e mais uns trinta irmãos”. O novo trabalho prosperou, mas aí foi a vez de o pastor ser vítima da divisão – um missionário da igreja, insatisfeito com sua liderança, saiu e levou consigo boa parte dos membros. Decepcionado, por pouco não caiu na fé. “Não fui atrás nem de um, nem de outro. Achei absurdo que homens que se diziam de Deus ficassem brigando entre si.”, reclama. Hoje, ofuncionário público congrega na Igreja Cristã Maranata. “Há muito de vaidade e interessespessoais nesses rachas, e pouco do Evangelho”, opina.
CREDIBILIDADE COMPROMETIDA
“Os crentes que mais sofrem com processos de divisão são justamente os neófitos na fé, queainda possuem uma visão romantizada da igreja”, aponta o pastor Altair Germano, coordenador pedagógico Faculdade Teológica da Assembléia de Deus em Abreu e Lima (Fateadal), em Pernambuco. “As pessoas ficam marcadas por essas rupturas”. No entenderdo educador, atitudes de divisão podem criar grandes males espirituais para os membros deuma igreja que se fragmenta – “Embora, em alguns casos, a divisão seja até necessária”,ressalva. Mesmo assim, pondera, levantar as questões de maneira pública não é o melhorcaminho. “As demandas e questões que suscitam divisões denominacionais precisam sertratadas pelos líderes com sabedoria, temor, respeito e amor cristão.”
Até mesmo falar sobre as experiências de divisão é difícil tanto para os líderes, como para osmembros das igrejas que sofreram esse tipo de situação. O pastor Josivaldo Carlos, 42, da Igreja Batista Missionária, já foi membro de uma igreja tradicional na periferia de Olinda (PE) antes de iniciar o próprio ministério. Há dez anos, um processo de mudança radical, implantada por um pastor que chegou à congregação, afastou rapidamente os membros maisantigos. “Eles se sentiram excluídos pela nova liderança. A maior parte se espalhou pelasigrejas vizinhas, mas uns até abandonaram o Evangelho.”
Josivaldo lamenta que os estragos da divisão vão além das paredes da igreja – trazemdescrédito não apenas para as instituições que passam pelo problema, mas para o Evangelho,como um todo. “Existem consequências muito grandes nesses momentos. Uma delas é oprejuízo ao caráter evangelístico da igreja”, comenta. “Os novos convertidos sofrem um abalona fé muito grande. Eles esperam da igreja algo novo, querem satisfazer um vazio da alma.Quando se deparam com uma separação que cria um ambiente muito hostil, a decepção é grande. Afinal, no lugar onde tinham a expectativa de encontrar soluções, acabamencontrando mais problemas”, declara Josivaldo.
Para Rinaldo Silva, de 24 anos, do Recife, o que o motivou a deixar a igreja onde congregavafoi o que chama de uma crise interna. Envolvido em vários trabalhos na igreja, ele foi levado adeixar o ministério onde se batizara e foi para outra congregação, na mesma localidade, com uma série de irmãos, por conta das mudanças promovidas por um novo pastor, que eramcontrárias aos princípios da igreja. “Esses momentos criam períodos de fraqueza espiritualmuito grande. Leva os membros a se fecharem; muitos não querem mais saber de igreja nem de participar do Corpo de Cristo. Com o tempo, a pessoa nem quer mais buscar a Deus”. Anos após, com o fim da crise, Rinaldo retornou a igreja de origem, onde congrega até hoje. O aposentado João Neto, 54 anos, também passou por um processo de divisão na sua antigaigreja. Desvios doutrinários instabilidade na congregação, que culminou numa divisão, seismeses depois. “A igreja tinha um perfil e uma história que foram desrespeitados. A unidade dacongregação foi enfraquecida. Entre os mais antigos, é uma tristeza ver uma trajetória serinterrompida.
Outro grupo de fiéis que demora a superar o embate das divisões são aqueles crentes quepossuem longas trajetórias em uma mesma igreja. “Geralmente, aqueles que têm umacaminhada histórica em sua denominação é que apresentam dificuldades maiores numasituação como esta. Aos poucos, aquela sensação de vazio vai se dissolvendo e um novo tempo se estabelece em nossas vidas, porque, afinal, Deus nunca desiste de nós e ele époderoso para guardar o nosso depósito até o dia final”, acrescenta o pastor Osvaldo Lopes dos Santos.

Fonte: Rafael Dantas, Cristianismo Hoje
Site Creio.

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